Sobreviventes do caos

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*Diretor da CNC e Presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA)

O Turismo teve os seus dias de glória. Antes da pandemia, o nosso setor era considerado um dos mais expressivos representantes da economia brasileira. Entretanto, a chegada da Covid-19 mudou completamente essa realidade. Hoje, em um cenário totalmente atípico, lutamos pela sobrevivência do segmento para que as nossas atividades não se extingam de vez.

Ano passado, no pico pandêmico que enfrentamos na primeira onda, calculou-se que 2019 foi o período em que o trade gerou mais empregos no País. Foram criados quase 36 mil novos postos de trabalho, um marco significativo para o empresariado e para os trabalhadores que atuam na área.

Além disso, também tivemos o melhor desempenho do setor desde 2017, com aumento de 2,2% no faturamento real, totalizando R$ 238,6 bilhões. Sabe-se que, antes de o coronavírus se tornar presente nos nossos dias, a população buscava, em ampla escala, refeições fora de casa, deslocamentos em viagens e serviços de hospedagem, conforme apresentado pelo Índice Cielo de Vendas do Turismo da CNC (ICV-Tur).

Nisso, foi  contabilizado  que  os  segmentos  Restaurantes e Similares (53,3%), Transporte de Passageiros (26%) e Hospedagem e Similares (11%) foram responsáveis por 90% das vendas turísticas, com valor em torno de R$ 216 bilhões. O crescimento que estávamos registrando era animador.

um novo mundo se descortinou diante de nós, apresentando um inimigo invisível a ser combatido com uso de máscaras, isolamento social e higienização constante das mãos para evitar contaminações por uma infecção viral que, até poucos meses, ainda era misteriosa para todos.

Estamos na batalha contra o coronavírus há um ano e, mesmo assim, ainda registramos perdas que podem se agravar. Desde março de 2020, somamos um prejuízo de R$ 312,6 bilhões e, caso não tenhamos medidas assertivas para mudar essa situação, acumularemos déficits ainda piores. Logo no início deste ano, por exemplo, nosso setor já chegou ao mês de fevereiro operando com apenas 42% da capacidade mensal de geração de receitas. Os dados foram disponibilizados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e são extremamente preocupantes.

É de conhecimento geral que, em janeiro, o Índice de Atividades Turísticas do País voltou a crescer. Todavia, não é possível vislumbrar uma recuperação com base nesses percentuais, visto que ainda passamos por um declínio constante de operações dentro do segmento, por conta das novas medidas restritivas que alcançam as regiões brasileiras.

O risco de lockdown integral se tornou iminente à medida que os casos de Covid-19 aumentam neste começo de  2021, causando, mais uma vez, uma baixa movimentação econômica devido à necessidade de ser implementado o afastamento social para minimizar a transmissão da doença.

Com novas ondas surgindo, o futuro ainda é muito incerto. O trabalho dos empresários do setor é assíduo e busca encontrar soluções capazes de reverter o cenário caótico no qual estamos inseridos.

A retomada será longa e difícil, cheia de percalços. Nossas cidades estão batalhando pela vacinação geral da população, mas a realidade é que ainda temos um longo caminho para percorrer até que tenhamos um número significativo de vacinados. Isso influencia toda a perspectiva para o futuro do trade.

Por isso, a necessidade de extensão de ações emergenciais, como a Medida Provisória (MP) nº 1.045, aprovada em abril. deste ano, que institui o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, permitindo a suspensão de contratos de trabalho e a redução da carga horária com diminuição proporcional do salário, para resguardar os empregos no turismo

Essa medida, dentro da situação em que estamos, poderia dar fôlego ao empresariado para, apesar de trabalhar com limitações, manter suas atividades. O nosso esforço deve estar concentrado na manutenção dos empregos e na movimentação econômica para gerar renda aos trabalhadores. Precisamos pensar em alternativas estratégicas para não afetar a saúde pública e, tampouco, a economia brasileira. É incabível que mais demissões ocorram. Estamos com um percentual preocupante de desempregados e de empresas que, infelizmente, tiveram que fechar as suas portas. Precisamos do suporte governamental para mudar essa realidade.

Nós clamamos por socorro para hotéis, restaurantes, bares e similares. Portanto, buscamos, junto ao governo federal, a abertura de novas linhas de crédito e solução legislativa, a longo prazo, das relações de trabalho em curso.

No último ano, defendi fortemente que juntos somos mais fortes. Ainda precisamos dar longos passos para voltar à vida normal, e isso só será possível se tivermos apoio uns dos outros. O nosso futuro é promissor, não tenho dúvidas.

Não podemos dizer que será possível recuperar tudo o que perdemos, mas não devemos desistir. Nosso setor é gigante, e devemos reconhecer que, ainda com os prejuízos gerais, poderemos sair mais fortalecidos e conscientes do nosso papel em relação à sociedade.

Confira a revista Turismo em Pauta edição 46 

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