Presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas)
A pior crise da história da aviação comercial brasileira ainda não terminou, e as chances de efetiva retomada da atividade só serão reais quando a vacinação em
massa contra a Covid-19 se tornar um fato. Depois de o setor ter registrado, em 2020, seu pior resultado em 20 anos, com queda de 48,7% na demanda por voos domésticos e retração de 47% na oferta, em comparação com 2019, o agravamento da pandemia do novo coronavírus, no início deste ano, interrompeu uma tendência de retomada gradual da atividade que vinha sendo registrada mês a mês desde maio de 2020.
Ao todo, transportamos no ano passado menos do que a metade dos passageiros de 2019, ou 45,2 milhões, uma diminuição de 52,5%. No mercado internacional, a situação foi ainda pior. O transporte aéreo de passageiros recuou 71% em 2020, em relação a 2019.
A oferta teve diminuição de 62,6% na mesma comparação. No total, foram transportados 6,8 milhões de passageiros, menos de um terço do fluxo de 2019. A partir de maio de 2020, começamos a verificar uma retomada gradual da demanda por voos domésticos, com as companhias alcançando o pico de 1.798 decolagens diárias em janeiro deste ano, ou 75% da oferta diária de partidas em relação ao início de março de 2020, antes das medidas de isolamento social e fechamento de fronteiras. No entanto, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus no País, as companhias aéreas nacionais registraram, em março, uma média de 1.258 partidas diárias domésticas, ou praticamente a metade (52,4%) da quantidade de decolagens pré-crise. Esse impacto negativo já havia sido verificado em fevereiro, quando a média diária recuou para 1.469 voos, o que equivale a 61,2% da malha aérea regular. Para abril e adiante, o cenário ainda é incerto.
Apesar desse panorama adverso e inédito para a aviação comercial, as companhias pertencentes à Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) cumpriram seu histórico papel social ao contribuir para o combate ao novo coronavírus, por meio de ações sociais solidárias desde o início da pandemia. Cerca de 3 mil profissionais da saúde foram transportados gratuitamente, assim como 3,8 milhões de vacinas contra a Covid-19 foram distribuídas em todo o País. Foram transportados, também sem custos, 166 toneladas de alimentos, equipamentos como respiradores e Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para diversas cidades brasileiras.
As associadas Abear ainda possibilitaram, de março a maio de 2020, a repatriação de 42 mil brasileiros, que ficaram impossibilitados de voltar ao Brasil porque a sua companhia aérea internacional parou. Esse total equivale a mais de 63% do total de passageiros que retornaram ao País por meio do transporte aéreo, esforço que incluiu as empresas internacionais e a Força Aérea Brasileira (FAB).
A contribuição da aviação comercial para o transporte gratuito de órgãos, equipes médicas e insumos para transplantes, que acontece desde 2001, não foi interrompida. Em 2020, as empresas aéreas transportaram gratuitamente 4.895 itens para transplante (órgãos, tecidos, insumos e equipes médicas), segundo dados da Central Nacional de Transplantes (CNT), do Ministério da Saúde. Nesse período, 2.911 voos levaram pelo menos um item a bordo.
Após um ano de pandemia, a expectativa é de que neste ano haja dois momentos. O primeiro semestre ainda é muito duro, difícil, de movimento reduzido impactado pela pandemia e por um cenário econômico ruim, mas temos sempre de lembrar que o respeito às medidas sanitárias deve ser mantido, com isolamento social e uso de máscaras, entre outros protocolos sanitários. O segundo semestre pode melhorar, desde que a vacinação massiva contra a Covid-19 comece a se tornar um fato.
Na Abear, quando começamos a monitorar os primeiros sinais da pandemia, elaboramos três grupos de ações para manter o País conectado. O primeiro bloco foi interno, ligado a redução de custos e revisão de contratos. A segunda frente foi marcada pelo diálogo com governo federal, estados, Ministério da Infraestrutura, Secretaria de Aviação Civil (SAC), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Ministério da Defesa, Força Aérea Brasileira (FAB), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Ministério do Turismo, para uma série de ajustes de regulamentação e normas que nos possibilitou continuar voando. A medida mais visível foi a que permitiu que
todo mundo que tinha um bilhete pudesse remarcá-lo por até um ano sem qualquer custo. A terceira iniciativa foi a demanda econômica. Pedimos linha de crédito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não vingou. Cada empresa buscou suas alternativas para aliviar o caixa no momento em que a demanda e a receita despencaram.
Além disso, montamos na Abear um programa com oito áreas prioritárias focadas na recuperação da aviação daqui para frente:
- Enfrentar o alto custo do querosene de aviação (QAV), que no Brasil é um dos mais caros do mundo;
- Buscar alinhar o Brasil às melhores práticas mundiais do ponto de vista legal;
- Avançar em melhorias de infraestrutura e condições para ampliar carga aérea;
- Construir um ambiente regulatório cada vez mais alinhado com o mercado internacional, para aumentar a eficiência do setor;
- Apoiar o avanço das concessões aeroportuárias;
- Reforma tributária para a retomada do desenvolvimento;
- Construir uma Politica de Aviação Regional para aumentar a conectividade do País;
- Construir um programa de estímulo às viagens aéreas, após a vacinação em massa se tornar uma realidade.
Para o conjunto da cadeia produtiva do Turismo, é fundamental que haja a implementação de um programa de fomento ao setor, por meio de parcerias
e trabalho colaborativo entre os setores público e privado em ações de estímulo a viagens, incluindo lazer, negócios e eventos, com destaque para a urgência deste último, que gera uma disseminação extremamente ampla de geração de trabalho e renda em diversos outros segmentos correlatos.
Destaco e reforço, porém, que só poderemos fazer com que todos se sintam seguros novamente para viajar a partir do momento em que a massificação do processo de vacinação seja um fato concreto.