Outro ano favorável para o comércio

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* por Carlos Thadeu de Freitas Gomes, Chefe da Divisão Econômica da CNC

 

O ano de 2020 representou grandes dificuldades devido a pandemia da Covid-19, com o setor terciário sofrendo com o fechamento dos estabelecimentos não essenciais. O avanço científico permitiu a criação de vacinas que amenizam os efeitos desse vírus, o que garantiu maior flexibilização das medidas de isolamento em 2021, com uma recuperação econômica gradual e persistente durante o ano.

Ao decorrer de 2021, o mundo passou a sofrer com as consequências da demanda reprimida pela pandemia, com um processo inflacionário mais acentuado. Os preços dos serviços, setor fortemente afetado em 2020 e em recuperação em 2021, pressionaram bastante esse resultado. No entanto, é importante considerar que a inflação já começou a arrefecer nos seus últimos números, com o IPCA-15 reduzindo de 1,17% em novembro para 0,78% em dezembro, com alguns grupos relevantes também desacelerando, como alimentos, habitação e transportes.

Essa evolução levou os Bancos Centrais de vários países a reverem suas políticas monetárias. No Brasil, o Banco Central iniciou um processo de elevação da taxa Selic, que estava em seu menor nível histórico no início do ano, 2,0%, e terminou 2021 em 9,25%. Esse aumento deve tornar os investimentos internos mais atrativos aos estrangeiros, estimulando a receita em dólar e valorizando o real, o que deve contribuir para amenizar o nível dos preços no próximo ano.

Com isso, o aumento nos juros em 2022 não deve ser tão intenso quanto o esperado pelo mercado no momento. Outro fator importante é que, apesar das altas, a taxa Selic já esteve em níveis mais altos e não parece estar interferindo no mercado de crédito, já que o endividamento alcançou o percentual de 49,4% da renda das famílias em setembro, o maior nível histórico.

A implementação do Pix e do Open Banking pelo Banco Central auxiliou em um mercado bancário saudável durante esse período difícil da economia. Esses dois sistemas levaram a maior concorrência entre as instituições, beneficiando os consumidores, que podem recorrer a melhores condições financeiras e, assim, não ficarem inadimplentes. Unindo esse fator a liquidez abundante observada, os spreads bancários também foram beneficiados e não devem aumentar no próximo ano.

Com o mercado de trabalho afetado pela pandemia, muitos brasileiros passaram a recorrer mais intensamente ao crédito para manterem seu padrão de consumo. Com isso, observou-se esse nível recorde no endividamento das famílias em 2021. Esse aumento pode ser considerado saudável, pois ajuda a aquecer a economia e não mostrou efeitos controversos, já que a inadimplência permanece sob controle, com as famílias conseguindo arcar com seus gastos.

Isso porque, ao longo de 2021 pôde-se perceber a recuperação do emprego, com quase 3 milhões de novas vagas geradas no ano até novembro. O que é corroborado pela taxa de desemprego de 12,1% no trimestre terminado em outubro de 2021, o menor nível desde o trimestre terminado em fevereiro de 2020, o início da pandemia.

Com esses avanços, o comércio vem se recuperando, com o natal, feriado mais importante para o setor, tendo faturamento esperado 9,8% acima do resultado de 2020. Com menos feriados em dias úteis na comparação com 2021, a estimativa é que o comércio obtenha 22% menos prejuízos no próximo ano devido aos feriados, caso se confirme, será a menor perda desde 2014.

Os empresários também percebem um momento econômico mais favorável, segundo o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O indicador geral apresentou crescimento de 0,3% em dezembro, acumulando elevação de 10,9% em 2021. Os componentes que representam as Intenções de Investimento (+1,4%) e Expectativas do Empresário do Comércio (+1,2%) também mostraram evolução.

Não se pode negar que o avanço da inflação representa uma dificuldade no poder de compra da sociedade, mas, a amenização nesse movimento dará alento no momento de consumir. A nova variante Ômicron também arrefeceu as expectativas em relação ao próximo ano, mas elas continuam positivas, apesar de menores. As eleições serão mais um desafio econômico para 2022, pois geram grande incerteza, o que leva a restrição no consumo.

Por outro lado, o apoio do consumo financiado pelo crédito irá aquecer a economia, com o mercado de trabalho em ascensão dando confiança aos consumidores para tomarem crédito e cumprirem com suas obrigações. O Auxílio Brasil será de grande importância para fomentar as compras, assim como o Auxílio Emergencial aprovado durante a pandemia, garantindo rendimentos para os mais necessitados. O incremento nos investimentos privados também afetará favoravelmente o comércio, além da renda gerada pela safra recorde esperada no próximo ano, que pode chegar a 291 milhões de toneladas.

Os fatores de recuperação de 2021 devem permanecer em 2022, com a vacinação avançando, assim como a maior movimentação da população, o que deve apoiar a tendência positiva do comércio. As vendas do varejo devem crescer cerca de 3% no próximo ano e 5% em 2021, mesmo com a desaceleração, esse crescimento é favorável, considerando os desafios que nos esperam em 2022.

 

 

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