A hora e a vez dos bancos

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* por Carlos Thadeu de Freitas Gomes, Chefe da Divisão Econômica da CNC

 

Em 2021 tivemos expansão do crédito mesmo com a mudança no ciclo da política monetária. Os dados do Banco Central (Bacen) mostraram a evolução das operações de crédito tanto com consumidores, quanto com empresas, mesmo no contexto de alta dos juros. Mais crédito refletiu-se em endividamento recorde, mas inadimplência ainda sob controle, na foto do ano passado.

O crédito ampliado, que considera as operações no sistema financeiro e não financeiro (mercado de capitais, governo, empresas não financeiras, instituições sem finalidade lucrativa, não residentes, dentre outros) cresceu 11,6% em 2021, puxado principalmente pelo boom do mercado de capitais.

O saldo de operações mobiliárias aumentou 35% na ótica do Bacen e, de acordo com a CVM, 2021 teve recorde no total de ativos emitidos em um ano, com R$ 722 bilhões, quase 67% acima do montante de 2020. Ativos baratos, juros ainda relativamente baixos e condições favoráveis para tomar crédito e financiamento.

Com os bancos e financeiras, o saldo das operações de crédito despontou mais de 16%, com destaque aos empréstimos às famílias. Os empréstimos para empresas também cresceram, mas menos do que em 2020, ano mais difícil da pandemia, marcado por iniciativas como Pronampe e Pese.

No momento em que a Selic ultrapassou a barreira imaginária dos dois dígitos, e que o avanço do crédito levou ao alto nível de endividamento na economia, cabem algumas reflexões. Começando pelo fato de os bancos terem sido muito beneficiados durante a pandemia, com afrouxamento expressivo nas condições de liquidez, liberação de compulsórios, taxas de captação convidativas, e uma mudança de comportamento dos consumidores que levou a captação de poupança a níveis altamente positivos, nunca antes observados na série do Bacen.

As expectativas de acirramento da inadimplência no início da crise sanitária não se concretizaram, mesmo com o fechamento dos estabelecimentos não essenciais e a queda rápida e brusca na atividade. As provisões para devedores duvidosos nos balanços dos bancos foram revistas para baixo.

Mas o filme de 2021 terminou mudando de figura. Juros em ritmo acelerado de alta, especialmente no crédito com recursos livres, tanto para empresas quanto para consumidores. E isso num contexto de nível elevado de dívidas contratadas e inflação geral alta e persistente.

As empresas de pequeno porte tiveram um respiro com os programas de crédito barato e com carência, como forma de enfrentamento dos impactos da Covid-19 na economia. Mas no último trimestre do ano passado as condições financeiras começaram a acirrar também para elas, com as dívidas começando a vencer, atividade impactada pelo surgimento de variantes da Covid, e outras despesas e custos acirrados pela inflação. A inadimplência das empresas deve bater na porta muito em breve, assim como já ocorre no aumento de contas e dívidas atrasadas pelos consumidores.

Os pequenos e médios negócios começaram 2022 aguardando o Refis, que não veio. E a Selic vai subir ainda mais nesse primeiro semestre do ano, aproximando-se dos 12%, levando os juros de mercado ainda mais para cima. Vale destacar ainda que a grande maioria dessas empresas tem nenhum grau de acesso ao mercado de capitais.

As taxas de juros médias no crédito com recursos livre aumentaram cerca de 8 pontos no ano passado para empresas e consumidores, chegando à média em dezembro de 20% para pessoas físicas, e 45% para pessoas físicas. Nessas modalidades os juros são pactuados livremente entre as partes contratadas, sem subsídios.

Estamos diante de um grande desafio que é manter os pequenos negócios viáveis e vivos, principalmente nessa primeira metade do ano.

Para evitar a quebradeira, os bancos e financeiras precisam atuar na repactuação dessas dívidas, alongando os prazos para as empresas e reduzindo substancialmente os juros aplicados nos contratos. Muitos deles foram firmados para fazer os negócios girarem, e com taxas mais elevadas do que as aplicadas nos programas de crédito instituídos pelo Governo. Estamos falando de juros acima de 20% ao ano, sendo que para possibilitar o pagamento do total dessa dívida, ele precisa ser bastante reduzido, mesmo com os prazos maiores.

É a hora e a vez do sistema financeiro aplacar o problema da inadimplência, que não é bom para ninguém, vale notar. Nem os credores, nem os devedores, nem a economia podem se beneficiar de spreads bancários elevados, por exemplo, como já tivemos no passado. Hoje a realidade é mais favorável para as operações de crédito porque o spread foi reduzido e está controlado na economia brasileira. E com os juros mais altos, os bancos tendem a ganhar mais dinheiro, por isso precisam estar na linha de frente do combate à inadimplência.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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