ESG, um conceito para além das empresas

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*por Antonio Florencio de Queiroz Junior, presidente da Fecomércio-RJ

É sinal de evolução de nosso mercado que a ideia de ESG nas empresas brasileiras seja cada vez menos um conceito desconhecido ou mera abstração. Se compararmos a quantidade de estudos e boas práticas relacionadas a ESG de 2019 para cá, é nítido que estamos cada vez mais debatendo e garantindo que essa sigla saia do papel no setor produtivo.

Antes, uma breve explicação: ESG é o conjunto de ações ambientais, sociais e de governança corporativa (Environmental, Social and Governance, em inglês), de modo a garantir um mercado mais saudável e sustentável.

Mas se é fato que essa sigla é cada vez mais conhecida, ela ainda está, muitas vezes, restrita ao mercado financeiro. O ESG, contudo, é tão importante que não pode ser “moda” em determinado setor e objeto de pouco debate em outro.

Chamo aqui atenção, diante da experiência do sistema Fecomércio RJ, da dupla importância que diversas entidades podem ter nesse debate sobre ESG.

Primeiro, acontece que muitas destas entidades, como é o caso do Sistema S, têm uma estrutura de apoio ao setor produtivo relevante, capilaridade em centenas de municípios e atendimento a milhares de pessoas, que fazem delas tão importantes quanto uma empresa de grande porte.

Além disso, as entidades têm capacidade incomparável de replicar boas práticas. Esse, aliás, é o segundo motivo por que é tão importante o ESG nas instituições, entidades e autarquias profissionais. Não só pela capacidade de execução de boas práticas, em razão de seu gigantismo, mas como elas podem influenciar seu ecossistema como nenhum governo ou empresa é capaz.

Imagine o potencial, por exemplo, de um bom conjunto de regras de sustentabilidade sendo levado a milhares de comerciantes ou industriais pelo Sistema S, a escritórios de advocacia pela OAB ou a engenheiros pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Não é pouca coisa.

E é essencialmente isso que vem nos movendo. Em pouco tempo, já temos uma lista considerável de boas práticas nesse campo, todas abarcadas no Programa de Integridade do Sistema Fecomércio RJ. Em 2020, lançamos o Código de Conduta Ética, que já passou por sua primeira revisão no ano passado.

No campo da diversidade, a principal iniciativa do Comitê de Diversidade do Sesc RJ foi a realização do “Conversas Diversas”, em que levamos aos funcionários do Sesc discussões relacionadas a assédio, capacitismo, racismo e assuntos ligados ao respeito à população LGBTQIA+.

Uma das ações mais recentes vem da área ambiental, com o lançamento do Instituto Fecomércio de Sustentabilidade, o primeiro desse porte ligado a uma federação do comércio no país. Um dos objetivos é otimizar práticas sustentáveis na relação entre empresários e consumidores na área de turismo e do comércio de bens e serviços no Rio de Janeiro.

Vale destacar o tópico do assédio moral, capaz de dinamitar por dentro um ambiente corporativo saudável. Nesse campo, o Sesc RJ realizou palestra sobre assédio moral, além de um workshop sobre assédio nas organizações.

Isso tudo representa, no entanto, apenas o início de uma jornada necessária — e que tem duplo papel: levar eficiência ao sistema Fecomércio RJ, bem como replicar essas boas práticas junto aos comerciantes.

Hoje, com quase dois anos de pandemia, está claro para todos nós que o mundo mudou, assim como as prioridades e os propósitos. O comércio e as relações de consumo, por exemplo, passaram por uma revolução, a duras penas, muitas vezes com o comércio fechado, mas hoje temos um mercado digitalizado como nunca tivemos. O papel do setor produtivo e das instituições é garantir que essa virada traga também novas perspectivas para os negócios e o ESG, seja o conceito americano ou apenas uma maneira de defender negócios mais sustentáveis, deixe de ser algo distante ou uma vitrine e passe a ser o cotidiano de todos nós.

 

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