O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, abriu hoje, em público, uma discussão sobre o foco da política econômica num eventual segundo mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, abriu hoje, em público, uma discussão sobre o foco da política econômica num eventual segundo mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Furlan defendeu a fixação de metas de crescimento de 5% a 6% nos próximos quatro anos.
A proposta de Furlan parte da idéia de que a primeira gestão de Lula alcançou o objetivo de manter a inflação sob controle e num patamar abaixo da meta definida pelo Banco Central (BC), que é de 4,5%.
“Eu colocaria o desafio de termos uma meta de crescimento. Essa meta não estaria conflitando com a meta de inflação porque a meta de inflação já foi alcançada com sucesso”, disse. A definição das metas de desenvolvimento daria aos investimentos públicos e privados uma perspectiva de longo prazo. Circunstancialmente, pelo menos, ele aproxima-se da ala do PT que defende políticas desenvolvimentistas em detrimento da manutenção do “paloccismo”, isto é, o atual arrocho fiscal e a timidez na queda dos juros.
“Os empresários se mobilizariam com essa sinalização do governo”, argumentou. “O esforço para se dar ênfase na redução maior da inflação, talvez, pudesse ser direcionado para uma agenda de crescimento”, insistiu.
Furlan não detalhou a forma como a administração federal poderia executar um programa de metas de crescimento. Apenas estabeleceu uma comparação com o que é praticado, atualmente, em relação às metas de inflação. “É a mesma coisa”, simplificou. “Por que não? A Argentina tem meta fixa de crescimento”, exemplificou.
Nos últimos anos, os juros foram elevados ou reduzidos pelo BC de acordo com o movimento de alta ou de baixa dos preços na economia. O objetivo foi alcançado e a inflação está, de fato, abaixo da meta, mas o custo dessa política foi um progresso econômico muito baixo. No segundo trimestre, o PIB cresceu apenas 0,5%. No semestre, a economia cresceu 2,2%, bem abaixo do patamar de 4% a 5% idealizado pelo governo.
Repercussão
A proposta do ministro teve repercussão imediata. O ex-diretor do BC e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, alertou para o fato de que a meta da inflação não pode acabar, mas admitiu mudanças no sistema posto em prática pelo banco. “O governo não pode ter duas metas, uma de crescimento e outra de inflação”, disse, ao defender, no entanto, a flexibilização das bandas de inflação (a meta pode variar para um índice mais alto ou mais baixo) para que o crescimento da economia não seja prejudicado. Nesse cenário de maior flexibilidade, a instituição financeira poderia buscar um patamar mais perto do teto de variação da meta.
“Hoje, a inflação está mais perto do patamar inferior”, disse. Por causa das altas taxas de juros, o ex-diretor do BC reconhece a dificuldade de o Executivo promover uma mudança de patamar para o crescimento da economia em 2007.
O economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse que uma meta de crescimento só seria factível se fosse um objetivo global da política econômica e incluísse como estratégia principal a redução da carga tributária.