O Brasil ganhou participação de mercado nas exportações mundiais nos últimos seis anos, mas outras economias, como a chinesa e a russa, cresceram ainda mais e, segundo especialistas, o avanço na participação poderá se estagnar ou até retroceder a partir deste ano.
O Brasil ganhou participação de mercado nas exportações mundiais nos últimos seis anos, mas outras economias, como a chinesa e a russa, cresceram ainda mais e, segundo especialistas, o avanço na participação poderá se estagnar ou até retroceder a partir deste ano. De forma geral, o crescimento em quantidade das exportações já está se aproximando da média mundial, diferentemente dos anos anteriores, quando o crescimento era bem superior.
Um levantamento elaborado pelo chefe da unidade Brasil/América do Sul do Departamento Econômico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Luiz de Mello, compara os ganhos de mercado do Brasil ao de outras economias em desenvolvimento. De 1999 a 2005, a participação brasileira avançou de 0,9% para 1,2% do mercado global. Dados da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex) mostram que o patamar ainda é inferior à taxa de 1,4%, na primeira metade da década de 1980.
Nesse mesmo período, o peso relativo das exportações da China saltou de 3,5% para 8%. A fatia da Rússia praticamente duplicou, passando de 1,3% para 2,5%. Ainda assim, o avanço brasileiro superou o da Índia, um forte importador de produtos, cujas exportações passaram de 0,7% para 1% no comércio global, e da Turquia, que teve avanço de 0,5% para 0,7%.
Países como Argentina e Indonésia mantiveram participação relativa, em 0,4% e 0,9%, respectivamente. O México chegou a 2005 com uma fatia de 2,2% do comércio mundial, quase o dobro do peso brasileiro, mas abaixo dos 2,5% em 1999.
Chama atenção, ainda, que a participação brasileira nas exportações no mundo é idêntico, por exemplo, ao da Tailândia. O levantamento foi realizado com base nas informações do UN Comtrade, com dados ainda preliminares para o ano de 2005. Segundo Mello, a pauta chinesa e o peso do petróleo para a Rússia impulsionaram as exportações dos dois países.
O especialista em comércio exterior do Ipea, Marcelo Nonnemberg, concorda que a produção de petróleo e os preços internacionais do produto ajudaram a aumentar as exportações russas. No caso da China, o país vem se especializando em produtos intensivos em tecnologia, que são mais dinâmicos no mundo.
Enquanto isso, o Brasil é basicamente um país exportador de commodities, além de carros, celulares, motores e aviões.
Nonnemberg avalia que é fundamental o Brasil ampliar sua pauta, o que exige, contudo, aumento de gastos em educação e em pesquisa e desenvolvimento. Ele reconhece que é preciso ganhar espaço nos gastos correntes e enfrentar a questão fiscal. Ele explica que o País “vem dando sorte” devido ao forte crescimento dos preços das commodities, que aumentaram 67% no período.
Um estudo recente da Funcex alerta que “há uma perda de dinamismo das exportações brasileiras quando comparado ao ritmo do comércio mundial, que foi compensada no ano passado por um ganho nos preços relativos das exportações”. Segundo a fundação, o motivo básico para a perda de dinamismo é a valorização do câmbio. A entidade indica que mantido o câmbio atual e caso não haja novos ganhos de preços, “é bem possível que o País não consiga sustentar novos ganhos de market share (participação de mercado) no comércio mundial nos próximos anos”.
O especialista do Ipea concorda no risco de perda de ritmo na conquista de novas fatias de mercado. Ele avalia que, caso não haja progressiva alteração da pauta brasileira e os preços não continuarem a crescer, a fatia de mercado do País pode retroceder. Em 2004 a quantidade exportada pelo Brasil cresceu a uma taxa 2,5 vezes maior que a mundial e no ano passado, apenas um terço acima. A projeção é que em 2006 o crescimento em quantidade convergirá para a média mundial.
Para o economista da OCDE, o preço poderá influir no desempenho. “Se o preço das exportações aumentar mais que a média mundial, mesmo com as quantidades crescendo à mesma taxa, o País teria um ganho de market share”, disse Mello.