O processo de terceirização no Brasil passa por ajustes e começa a se espelhar no novo conceito do processo registrado nos países desenvolvidos, chamado de “smartsourcing”, afirma o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dante Girardi.
O processo de terceirização no Brasil passa por ajustes e começa a se espelhar no novo conceito do processo registrado nos países desenvolvidos, chamado de “smartsourcing”, afirma o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dante Girardi. Em parceria com a empresa de contratação Gelre, ele realizou o estudo “A Terceirização como Estratégia Competitiva nas Organizações”.
Segundo ele, a forma inteligente de terceirizar atividades em uma empresa ocorre quando existe um sofisticado sistema onde há parceria forte entre prestador de serviços/produto e o tomador destes. “Ambos se relacionam de maneira a não haver segredos, trabalhando em sincronia para que se conquiste a execução das tarefas com melhor qualidade, com mais tecnologia, sem abandonar as possibilidades da redução de custos para ambos.”
Enquanto no Brasil as principais atividades terceirizadas são limpeza e conservação, vigilância e segurança, manutenção predial, paisagismo, desenvolvimento de software e jurídico, em outros países estão o de tecnologia da informação (52%), administração (36%), recursos humanos (20%) e vendas/marketing com 8%.
Girardi diz que hoje a terceirização deixou de ser um modismo para tornar-se uma questão estratégica dentro das empresas. O que antes se caracterizava por uma relação de certa forma distante – em que se repassavam alguns serviços isolados e até mesmo dissociados da atividade essencial, caracterizando a prática de “dumbsourcing”, ou uma terceirização burra -, foi se transformando a ponto de registrar um número expressivo de empresas que conseguem estabelecer uma relação simbiótica com os parceiros, inclusive transferindo atividades fim, diz o autor do estudo.
Para ele, o exemplo mais marcante é o da fábrica de caminhões da Volkswagen, de Rezende (RJ), que já ultrapassou os limites de transferir somente as atividades de apoio. “O processo de pintura automotiva, que até pouco tempo se apresentava como um serviço impensável de se confiar a terceiros, foi transferido a parceiros que executam o serviço dentro da unidade fabril da montadora.”
Girardi cita Alvin Toffler, autor dos livros “O choque do futuro” e “A terceira onda”, ao afirmar que a estrutura de poder que mantinha as relações sociais coesas começam a implodir. “As empresas perceberam que a tentativa de manter o controle total de suas atividades causava problemas na sua performance e no desenvolvimento de seus projetos, tornando-as de certa forma sem a agilidade necessária para o enfrentamento dos desafios diários que se apresentam em função da alta competitividade.” Segundo ele, existe uma nova realidade econômica e financeira, onde a necessidade em obter ganhos de qualidade e produtividade estimula o desenvolvimento de parcerias.
Além das vantagens para as empresas, o estudo mostra que a terceirização não reduz o número de empregos, não provoca a informalidade e contribui para a melhor distribuição de renda. “Embora possa haver demissões, a médio prazo o processo tende a gerar oportunidades”, afirma Girardi.
Pesquisa realizada este ano pelo Centro Nacional de Modernização (Cenam) evidencia que mais de um terço das empresas contratadas para a prestação de serviços foram criadas por ex-funcionários, fato que pode ser motivado pela própria empresa contratante.
A maioria (66%) das empresas prefere fazer uso de empresas que já tenham experiência no mercado. O estudo da Gelre e da UFSC também cita evidências de surgimento de três novas vagas de trabalho em atividade terceirizada para cada emprego perdido na empresa. E ressalta que a terceirização pode proporcionar a possibilidade do trabalho por conta própria, realizando o sonho de ser o dono de seu próprio negócio.
Levantamento do Departamento Intersindical de Estudos Sócio Econômicos (Dieese) aponta que o tempo médio de um trabalhador brasileiro, entre a demissão e a volta ao mercado, é de sete meses.
Segundo Girardi, no caso das demissões dos 3.600 funcionários da fábrica da Volkswagen em São José dos Campos, é improvável que o mercado consiga absorver essa demanda a curto prazo, principalmente, em função da expectativa de pouco crescimento do Brasil em torno de 3,5%/ano. “Ainda mais nas mesmas funções que ocupam atualmente, em virtude da automação industrial.”
Para o professor, o ideal seria a implantação de um programa sério de ‘outplacement’ (recolocação profissional), com a requalificação dos trabalhadores e, num prazo de cerca de um ano, recolocá-los no mercado gradativamente, sendo que alguns poderiam se tornar empreendedores.
A pesquisa realizada pelo Cenam junto a 2.850 empresas mostrou que a necessidade de melhorar o foco na atividade fim da empresa e a redução de custos foram os principais motivos que a levaram à terceirização (55%). Liberar recursos para outros propósitos atinge o percentual de 36%. Compartilhar riscos, obter vantagens de recursos no exterior e entregar a atividade para um parceiro em função da dificuldade de administrá-la internamente são os fatores que menos instigam a opção em terceirizar.