O Brasil perdeu nove posições no ranking de competitividade global do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) 2006-2007, caindo da 57ª para a 66ª colocação entre 125 países. A posição do Brasil também é a mais baixa entre os BRICs – termo cunhado pelo banco de investimentos Goldman Sachs para denominar o grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China – e de vários outros grandes países emergentes.
O Brasil perdeu nove posições no ranking de competitividade global do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) 2006-2007, caindo da 57ª para a 66ª colocação entre 125 países. A posição do Brasil também é a mais baixa entre os BRICs – termo cunhado pelo banco de investimentos Goldman Sachs para denominar o grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China – e de vários outros grandes países emergentes.
A queda do Brasil, segundo os organizadores do estudo, deve-se principalmente a seu fraco desempenho em dois dos “pilares” que contêm os critérios utilizados para a elaboração do ranking: fatores macroeconômicos – no qual ocupa a 114ª posição (em 2005, o país havia ficado em 91º lugar) – e institucionais. Déficit fiscal, elevado endividamento público, juros altos, baixo crescimento econômico, carga tributária excessiva e deficiências na máquina administrativa e corrupção são os destaques negativos do país. As outras categorias são: Instituições; Infra-estrutura; Saúde e educação básica; Educação superior e treinamento; Eficiência de mercados; Disponibilidade tecnológica; Sofisticação de negócios; e Inovação.
A Suíça foi considerada a nação mais competitiva entre os 125 avaliados pelo estudo. Finlândia, Suécia, Dinamarca, Cingapura, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Holanda e Reino Unido completam o grupo dos dez melhores colocados. Os Estados Unidos caíram do primeiro lugar na edição do ano passado para sexto nesse ano. Entre os grandes países emergentes, a Índia ocupa a 43ª posição, África do Sul a 45ª, a China a 54ª, o México a 58ª e a Rússia a 62ª.
Chile lidera entre países da América do Sul
Na América do Sul, o país mais competitivo, segundo o ranking, é o Chile, que ficou em 27º lugar – a mesma cololocação de 2005. Sistemas regulatórios, instituições sólidas (com um grau de transparência que supera a média da União Européia) e mercados relativamente livres de distorções mostram que o país se manteve estável, segundo o Fórum.
“Dada a posição altamente competitiva do Chile, o governo terá de dar atenção à atualização das habilidades da força de trabalho”, diminuindo a diferença na comparação com a Finlândia (2º), Irlanda (21º) e Nova Zelândia (23º), com os quais o Chile pode ser comparado, diz o documento. Até a competitividade da Colômbia, 65ª, supera a do Brasil. A Argentina está logo atrás, na 69ª posição.
O economista-chefe do WEF, Augusto Lopez-Claros, ao explicar os motivos que levaram à queda do Brasil no ranking, destacou os fatores macroeconômicos, entre eles o déficit público, que ficou em 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. Com isso, país caiu da 68ª para 83ª posição nesse critério “Isso pode parecer estranho para um brasileiro, que percebe uma nítida melhora das finanças do país nos últimos anos”, disse Lopez-Claros. “Mas o problema é que nosso levantamento faz uma comparação entre outros países e muito deles melhoraram mais do que o Brasil nessa área.”
Lopez-Claro observou que quando instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) atestam a melhora dos fundamentos da economia brasileira, “elas não estão estabelecendo uma comparação com outros países, como o Chile, por exemplo, mas com o passado do próprio Brasil”. Segundo o economista do WEF, o Brasil também registra um crescente nível de endividamento público. “Ao longo do tempo, a menos que a economia cresça rapidamente, o que não está acontecendo, o nível de endividamento deve aumentar”, disse.
Para o especialista, o alto volume de dívida do governo e um spread grande na taxa de juros indicam um alto custo de intermediação no setor bancário brasileiro, que gera efeitos negativos sobre investimentos no setor privado e contribui para menor crescimento econômico. No critério referente à “extensão e efeito” da carga tributária o Brasil está na 125ª posição.
No pilar relacionado às instituições, o Brasil ocupa a 91ª posição. Alguns dos critérios nos quais a performance do país é muito fraca são o desvio de fundos públicos (121º lugar no ranking), desperdícios dos gastos governamentais (119º) e confiança nos políticos (119º). “As informações que chegam do Brasil, como por exemplo as recentes notícias sobre o número de parlamentares sob investigação criminal, não ajudam a imagem do país”, disse.
Entre os fatores “mais problemáticos para se fazer negócios no Brasil”, o estudo destaca o sistema tributário, o regime trabalhista, a “burocracia ineficiente do governo”, infra-estrutura inadequada, acesso a financiamento e a corrupção.
A melhor performance do Brasil foi registrada nos pilares sofisticação de negócios e inovação. Em ambos o país ocupa a 38ª posição. No critério referente a educação primária e saúde, o país também está numa posição considerada positiva, a 47ª.
Melhora das condições sociais na próxima década
Segundo Lopez-Claros, o Brasil possuiu uma série de características que oferece a perspectiva um potencial de maior crescimento econômico e melhora das condições sociais nas próximas décadas. “Trata-se de um país com uma tendência demográfica positiva, uma população jovem que vai engrossar a massa de consumidores, uma economia sofisticada e que atrai substanciais investimentos diretos estrangeiros”, disse. “Sou mais otimista com o Brasil do que, por exemplo, com a Rússia, cujos níveis de corrupção são endêmicos, a população está encolhendo e a economia depende principalmente do petróleo.”
A exemplo da maioria dos analistas internacionais, Lopez-Claro acredita que a melhora da competitividade brasileira requer a implementação de reformas macro e microeconômicas que aceleram o potencial de crescimento e a situação fiscal, fortalecimento das instituições e maior eficiência na máquina administrativa pública.
Para a elaboração do ranking, cujos critérios foram ampliados neste ano o WEF utiliza, além de indicadores econômicos , os resultados do seu estudo anual “Pesquisa de Opinião de Executivos”. Este ano, mais de 11 mil líderes corporativos nos 125 países incluídos no ranking participaram da pesquisa. No Brasil, aproximadamente 200 líderes empresariais foram entrevistados.
Mantega vê discrepância
As empresas de avaliação de risco de investimentos internacionais têm demonstrado que o Brasil melhorou suas condições de credibilidade no cenário econômico, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao ser indagado sobre a perda de posição do país no ranking mundial de competitividade do Fórum Econômico Mundial.
O ministro reafirmou que nos contatos que manteve na semana passada em Cingapura, na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) com vários investidores estrangeiros, o Brasil recebeu o melhor dos conceitos de um país sólido, com crescimento e uma situação favorável ao investimento.
Para Mantega, há discrepância entre a avaliação do fórum e aquilo que o próprio mercado está entendendo o Brasil. Só neste ano, segundo o ministro, três empresas que realizam a classificação de risco consideraram a economia brasileira sólida.