Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Que os últimos governos, no Brasil, anteriores ao atual, foram muito malsucedidos, todo mundo sabe. Os trabalhadores, os servidores públicos, os contribuintes, sentiram na carne.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Que os últimos governos, no Brasil, anteriores ao atual, foram muito malsucedidos, todo mundo sabe. Os trabalhadores, os servidores públicos, os contribuintes, sentiram na carne. Deixaram para o Governo Lula uma herança pesada: salários sem reajustes, insuportável carga tributária e uma dívida pública que cresce mais rapidamente que a arrecadação fiscal.
O Governo Lula sofreu o diabo para segurar a situação em 2003, quando o PIB ficou totalmente estagnado e as pressões inflacionárias aumentaram. Mas não percebeu a origem dos problemas, que vem da megadimensão do Estado e, sem um plano estratégico bem definido, criou mais alguns Ministérios, várias secretarias e diversas Agências Reguladoras, com funções superpostas às dos Ministérios, além de inaugurar vários Programas Sociais de discutível utilidade. Aumentou o tamanho do Estado, ao invés de reduzi-lo. Enveredou pelo caminho das reformas de base, com uma equipe ainda inexperiente em matéria de administração pública, em grande parte de orientação sindicalista, impregnada de uma ideologia incompatível com os dias atuais.
A reforma agrária está entregue à ação subversiva do MST, a reforma tributária tem nítido caráter fiscalista, a reforma trabalhista não tem consenso e nem rumo certo, e ainda há uma desastrosa proposta de reforma do ensino superior. Na esfera administrativa, foram nomeados milhares de militantes para os cargos de confiança, sem experiência, sem currículo profissional, geralmente companheiros derrotados nas eleições de 2002. O curso das propostas em andamento no Congresso Nacional, com vistas às eleições de 2006, deram margem a um lamentável processo de aliciamento político com negociações de votos ou nomeações para cargos públicos.
Agropecuária favorecida
Mas a administração do novo Governo foi abençoada pelas circunstâncias. A agropecuária, de longa data favorecida pelas pesquisas e modernas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, desabrochou uma extraordinária capacidade de competição nos mercados internacionais.
O mesmo aconteceu com a indústria que, após as agruras da abertura dos anos 90, aumentou consideravelmente seus níveis de produtividade e competitividade. Deus também ajudou. O mercado internacional se expandiu, com a entrada da China, o aumento do consumo no Oriente Médio, a recuperação da Argentina e o aumento das importações do México, dos Estados Unidos e da Europa. A desvalorização do dólar foi mais uma “colher de chá”.
As exportações brasileiras, em dois anos, cresceram 60,2%, produzindo um superávit de US$ 66,1 bilhões, que afastou a crise externa e devolveu credibilidade ao País.
O Banco Central, do alto de sua “torre de marfim”, não entendeu o sentido dos “ventos favoráveis” e tratou de “arriar as velas”, freando as oportunidades de crescimento. Pior do que isso, praticou uma política de combate aos aumentos de preços baseada numa meta inflacionária artificial e inacreditáveis altas dos juros básicos, que estão arrasando as contas públicas e enriquecendo os afortunados investidores de renda fixa, nacionais e estrangeiros. A economia brasileira alçou vôo, em 2004, mas tudo indica que não será um “vôo de águia”. Os desmandos na área administrativa e o desenvolvimento audacioso do balcão de negócios políticos desaguaram, como não podia deixar de ser, num estuário de escândalos e de corrupção.
A administração pública ficou mais complicada e mais difícil. Há erros que parecem impossíveis de serem consertados. Não há vontade política para fazer uma reforma geral, saneadora. Cresceram, assustadoramente, a desconfiança e as incertezas, campo ideal para o desenvolvimento de desenfreada especulação. Os ricos estão ficando milionários.
O Governo tem que fazer alguma coisa, antes que seja tarde demais.
Publicado no Jornal do Commercio de 27/06/2005.