Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Na Grécia Antiga, a economia representava o conjunto de leis e normas que comandavam o governo da casa e a política regia a organização da cidade-estado. A fusão entre economia e política acontece ao tempo dos mercantilistas franceses, quando, sob o reinado de Luis XIV, o Estado estimulava as “manufaturas do reino” e postulava que a balança de comércio deveria ser superavitária.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Na Grécia Antiga, a economia representava o conjunto de leis e normas que comandavam o governo da casa e a política regia a organização da cidade-estado. A fusão entre economia e política acontece ao tempo dos mercantilistas franceses, quando, sob o reinado de Luis XIV, o Estado estimulava as “manufaturas do reino” e postulava que a balança de comércio deveria ser superavitária. Em matéria de estímulo, nada muito diferente do que se imagina como política econômica no Brasil de nossos dias. Seja como for, desde então a expressão Economia Política indica uma associação indissolúvel entre esses dois domínios da atividade humana.
A pergunta que está na mente de todos, neste momento, é a de saber, como resposta, se a crise, configurada pela derrocada da ética na função pública, vai ou não contaminar a confortável situação econômica.
O quadro econômico do primeiro semestre de 2005 não poderia ser mais promissor. Os índices de preços apontam para uma ligeira deflação e as expectativas sobre a inflação anual passam a convergir para o ponto médio da meta inflacionária, proposta pelas autoridades monetárias. Nos últimos oito meses, as exportações alcançaram a cifra de US$ 76,1 bilhões, deixando um alentado saldo de US$ 28,3 bilhões. A elevada liquidez internacional, associada às diferenças entre a taxa interna e a taxa internacional de juros – argumento recentemente invocado pelo Deputado Delfim Netto, em conferência pronunciada na Confederação Nacional do Comércio – explica, ao lado do desempenho das exportações, porque a moeda americana chega, frente ao real, a um dos valores mais baixos dos últimos anos.
Por enquanto, a economia parece estar infensa à crise política, mas esta é uma visão de curto prazo e, no mundo dos negócios, é preciso ter presente visões de médio e longo prazos. Se, ao invés de ser prontamente atalhada, a crise política continuar em expansão, imobilizando o poder de decisão e a credibilidade dos governantes, no médio para o longo prazo, a economia estará irremediavelmente contaminada.
Preocupa sobretudo o lado real da economia, ou o que Galbraith chamou de “sabedoria convencional”, ou seja, a fragilidade de nossa infra-estrutura econômica. Meios de transporte em mau estado e insuficientes e projetos sobrestados no setor da energia estão, entre outros, a requerer vultosos investimentos que, por definição, demandam longo tempo de maturação. Se a crise política não for rapidamente debelada e a reação política permanecer na inércia em que se encontra, o equilíbrio entre a infra-estrutura econômica e as demandas dos setores diretamente produtivos só será alcançado através da manutenção de modestas taxas de crescimento econômico, nos próximos anos. O espetáculo anunciado simplesmente não acontecerá.
Publicado no Jornal do Brasil de 14/09/2005, Caderno Economia, pág. A-20.