Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio
Juros básicos reais de 14% ao ano, em um país que tem cerca de R$ 980 bilhões de dívida pública mobiliária, é realmente inconcebível e um desafio à competência da Diretoria do Banco Central. Não há, até agora, uma explicação aceitável, a menos que se diga que, de outra forma, com uma taxa de juros mais baixa, não será possível rolar a dívida.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio
Juros básicos reais de 14% ao ano, em um país que tem cerca de R$ 980 bilhões de dívida pública mobiliária, é realmente inconcebível e um desafio à competência da Diretoria do Banco Central. Não há, até agora, uma explicação aceitável, a menos que se diga que, de outra forma, com uma taxa de juros mais baixa, não será possível rolar a dívida. Essa é a alternativa que terá de ser testada.
É evidente que a taxa básica de juros é uma faca de dois gumes: de um lado, puxa a taxa de câmbio para baixo, ajudando a controlar a inflação; de outro lado, arrasa com as contas públicas, promovendo um agravamento da dívida interna, de conseqüências imprevisíveis.
Se a economia brasileira está gravemente enferma, sem perspectivas de cura, não seria o caso de o Governo convocar uma junta médica, para obter uma “second opinion”?
O controle da inflação, nos níveis mais baixos possíveis, é uma questão muito, muito importante, porque todos nós sabemos os males que pode causar uma inflação aguda, principalmente para os trabalhadores. Mas não há, no momento, nenhuma inflação aguda; o que existe é, apenas um “sopro” inflacionário, controlado pelo mercado, onde as pressões de demanda estão contidas pelas baixas taxas de crescimento econômico, dos últimos dez anos. Assim sendo, é evidente que a política monetária do Banco Central está equivocada e precisa mudar de rumo. Mas não é só isso. É indispensável a adoção concomitante de uma política fiscal austera, capaz de promover superávits orçamentários, que permitam reduzir a carga tributária e criar condições para que o Governo possa investir nos projetos de infra-estrutura e o setor privado possa realizar seus planos de expansão, gerando empregos que desafoguem a angustiosa crise social que o País atravessa.
A economia brasileira está aparentemente sadia, porque as exportações têm crescido a uma taxa de mais de 25% ao ano, beneficiadas pela extraordinária expansão do comércio mundial. Ainda assim, a taxa média anual de crescimento do PIB nacional tem sido menos da metade da alcançada pelos demais países emergentes. Visivelmente, não há garantia de sustentabilidade para um crescimento adequado da renda nacional, ao nível das taxas históricas e tradicionais.
A economia brasileira está prisioneira de um círculo vicioso, em que o pesado ônus dos juros gera o déficit fiscal, que gera a dívida pública, que gera insuportável carga tributária, que gera pressões inflacionárias, que geram juros letais e, assim, sucessivamente, condenando a economia à estagnação e ao desemprego.
Em verdade, estamos perdendo uma oportunidade excepcional para crescer e criar empregos. Mas é lógico que para quebrar esse círculo vicioso é preciso uma firme vontade política, que está faltando.
Publicado no Jornal do Commercio de 06/02/2006.