Prós e contras da economia brasileira (Jornal do Brasil, 20/04/2006)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Sem dúvida, a economia brasileira vem atravessando um momento auspicioso. A inflação está situada a nível internacional, fato inédito na história econômica do País, nos últimos 70 anos. A inflação controlada favorece os trabalhadores, na medida em que não reduz o poder de compra dos salários. O comércio internacional também atravessa a melhor fase, com exportações crescendo mais de 20% em 2005 e 2006.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Sem dúvida, a economia brasileira vem atravessando um momento auspicioso. A inflação está situada a nível internacional, fato inédito na história econômica do País, nos últimos 70 anos. A inflação controlada favorece os trabalhadores, na medida em que não reduz o poder de compra dos salários. O comércio internacional também atravessa a melhor fase, com exportações crescendo mais de 20% em 2005 e 2006. O desemprego está estabilizado, embora em nível muito alto, mas a média dos salários vem crescendo. O ingresso de capitais estrangeiros – investimentos diretos e financiamentos – estão em expansão. A dívida externa caiu de US$ 201,4 bilhões, em 2004, para US$ 169,0 bilhões, em março de 2006. As reservas cambiais aumentaram US$ 33 bilhões, nos últimos quinze meses. A maioria dos empresários – nacionais e estrangeiros – está otimista  e demonstra propensão a expandir seus investimentos. De um modo geral, as estimativas são de que o PIB cresça 4% ou mais, em 2006.


De outro lado, a situação é inversa. O Governo continua gastando mais do que arrecada, aumentando continuamente a dívida pública interna, sobre a qual paga os maiores juros reais do mundo, fato que alguns analistas consideram que vai levar o País à insolvência, em dois ou três anos, se não forem adotadas medidas de significativa austeridade fiscal. “A cada ano, o Estado brasileiro aumenta um palmo” e, assim, também, a carga tributária. O Estado absorve do setor privado cerca de 40% do PIB, mais do que nos Estados Unidos e na Europa e o dobro dos países asiáticos, do Leste Europeu, do México, do Chile ou da Argentina. A Previdência Social caminha para a insolvência. Os investimentos na infra-estrutura estão parados há mais de cinco anos, com as estradas esburacadas, os portos necessitando de dragagem e de equipamentos, a oferta de energia elétrica ameaçada de nova crise, como a de 2001. A produção de petróleo cresce rapidamente, mas a auto-suficiência é apenas ilusória, na medida em que a Petrobrás ainda importou, em 2005, US$ 8,2 bilhões de combustíveis líquidos e gasosos. A agricultura registrou em 2004 e 2005, uma perda de R$ 30 bilhões, devido à seca e à sobrevalorização da taxa de câmbio. O MST está promovendo, impunemente, uma revolução subversiva no setor rural, criando um clima de incertezas e insegurança que afeta os investidores. Grupos indígenas, diante da omissão ou da conivência das autoridades públicas, estão seguindo os passos do MST.


As CPIs na Câmara dos Deputados, revelaram o lado podre da política partidária, que compromete a administração pública. Dificilmente, haverá clima para uma reforma política ou administrativa nos próximos anos.


A economia brasileira está sendo sustentada por alguns fatores aleatórios, como a expansão do comércio internacional e da economia mundial, onde a presença da China representa um novo pólo de gravidade e o preço do petróleo está gerando uma extraordinária expansão de liquidez financeira internacional, face ao inusitado aumento dos petrodólares.


Entre prós e contras, é possível que a economia brasileira cresça, neste ano, acima de 3,5%, como em 2004. Será mais um dos muitos milagres brasileiros.


As proporções do Mega-Estado brasileiro geram os níveis brutais dos juros e da carga tributária, que induzem à sonegação, ao contrabando, à corrupção, à burocracia, ao desemprego, à economia informal e à violência urbana. Não é fácil ao País reverter essa situação, criada e agravada há mais de dez anos. Alguém tem que dar o primeiro passo, ou seremos todos responsáveis pela mediocridade nacional.


Pelo que nos indica a experiência dos últimos 25 anos, é improvável que o País volte a ter uma taxa sustentável de desenvolvimento, em termos médios de 7%, enquanto o Estado continuar engordando e o Governo retirar do bolso do setor privado a espantosa carga tributária atual.


Publicado no Jornal do Brasil de 20/04/2006, Caderno Economia, pág. 18.

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