A série de debates E Agora, Brasil?, realizada pelos jornais O Globo e Valor Econômico, com o patrocínio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Federações e Sindicatos do Sistema Comércio, chegou à sua terceira edição em 2022, tendo como tema os caminhos que o Brasil deve seguir para enfrentar a inflação global.
Neste encontro, participaram como convidados o ex-ministro da Economia Henrique Meirelles, o ex-diretor do Banco Central, José Júlio Senna, e a economista-chefe da A.C. Pastore Consultores & Associados, Paula Magalhães.
O debate foi mediado pelo colunista de O Globo, Alvaro Gribel, e pelo editorexecutivo do Valor Econômico, Sergio Lamucci.
Impactos da pandemia e do conflito na Ucrânia
Em resposta ao tema “como o Brasil deve enfrentar o quadro inflacionário global?”, Henrique Meirelles, Júlio Senna e Paula Magalhães explicaram, inicialmente, que a pandemia da Covid-19 desorganizou as cadeias de produção e as medidas emergenciais implementadas pelos governos dos países, notadamente pelos Estados Unidos, elevaram a inflação mundial. Os efeitos se
agravaram com a intervenção russa na Ucrânia.
No caso do Brasil, pontuaram eles, a inflação global somou-se ao cenário interno, com algumas incertezas no horizonte. “A inflação global ganha fôlego no País com as questões domésticas e pela questão política. A tarefa de controlar a inflação não é só do Banco Central”, frisou Senna.
Meirelles afirmou que a redução temporária das alíquotas de tributos federais e estaduais têm pouco efeito sobre a inflação e que transferir a conta para os estados e municípios poderá agravar ainda mais os problemas sociais e econômicos já enfrentados pela população brasileira, sobretudo em áreas essenciais, como saúde, segurança e educação.
Reforma
“As políticas fiscais têm de estar bem alinhadas, para que, de fato, o Brasil volte a crescer, apesar do fenômeno global”, afirmou o ex-ministro da fazenda. “Existe a possibilidade de fazer uma reforma administrativa, cortando os custos da máquina, abrindo espaço para investimentos e despesas sociais necessárias”.
Senna destacou que o controle da inflação global e a retomada da economia dependem também do esforço em conjunto dos poderes Executivo e Legislativo. “Teremos que resgatar o arcabouço institucional, afirmou.
Paula Magalhães avaliou que, devido ao ambiente de inflação elevada,
notadamente dos alimentos, os juros seguirão afetando a economia.
“Entraremos 2023 com a renda real comprometida, apesar da geração de empregos. A inflação dependerá dos efeitos dos cortes de impostos feitos este ano e das decisões políticas que serão tomadas no próximo ano”, afirmou.