A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) participou, nesta quinta-feira (8), de audiência pública da Câmara dos Deputados para debater as ações afirmativas para equidade étnico-racial e combate ao racismo nas empresas. O debate é uma das atividades da Comissão de Juristas da Câmara dos Deputados, que avalia propostas e estratégias para combate ao racismo estrutural no País.
O advogado da Divisão Sindical da CNC, Antonio Lisboa, representou os setores econômicos da entidade e iniciou fazendo uma explanação das leis nacionais que criminalizam ações de discriminação em todos os âmbitos da sociedade e citou tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, e se compromete a instituir políticas de combate às desigualdades.
Neste sentido, a CNC orienta as federações a incluírem cláusulas de combate a qualquer tipo de discriminação em suas normas de conduta e estatutos. Em outro eixo, o Sistema Comércio investe na formação aberta. Lisboa citou o curso “Diversidade: Educação Antirracismo, oferecido pelo Senac, que faz parte da CNC.
O advogado ressalta que o curso promove o conhecimento a escuta de pessoas negras. “É interessante a gente ouvir dos próprios negros o que eles passam no dia a dia. (o curso) É disponível a todos, é online, todos podem participar. É bom para o empresário, é bom para o trabalhador”, conclui.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), debatidos em audiência, mostram que 56,10% da população brasileira é composta por pessoas negras, no entanto, é a parcela social que mais sofre com o desemprego, que ultrapassa 62%, além de ser a maior parte dos funcionários que ocupa cargos de base e é sub- representado em posições de liderança nas empresas.
Ainda como iniciativas do comércio para combate ao racismo, a empresária Luiza Trajano, presidente da rede varejista Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, afirmou que os primeiros debates do grupo foram relacionados ao combate à violência contra a mulher e o racismo, especialmente entre empregadores e empregados.
No âmbito da empresa, ela conta que abriu um programa de trainee para jovens negros, mas a rede enfrentava a dificuldade de encontrar candidatos. “Não apareciam candidatos negros, eu falava com o RH e eles relatavam que ninguém se inscrevia”, conta. Diante do cenário, a empresa fez um levantamento e identificou que, em toda a rede, eram 53 funcionários negros e nenhum ocupava cargo de liderança.
A empresa, então, decidiu fazer uma propaganda massiva para atrair jovens negros para o quadro de funcionários e relata que recebeu cerca de 20 mil inscrições e a reação negativa de muitos clientes. “Foi o fim de semana mais agressivo, diziam: não vou mais comprar na empresa”.
Em apresentação sobre a representação de pessoas negras em instituições bancárias, a Federação do setor mostrou dados que revelam que, atualmente, 28,2% dos trabalhadores dos bancos são negros, um aumento de 40%, se comparado a 2008.
Em 2007, a federação criou o programa da diversidade, liderado pela Comissão de Recursos Humanos e conta com a participação de 30 bancos, que se reúnem mensalmente para debates sobre canais de consulta, regra de condutas para trabalhadores, clientes e fornecedores.
Comissão
A Comissâo de Juristas da Câmara dos Deputados realiza debates constantes, envolvendo diversos setores da sociedade, para avaliar e propor estratégias normativas para aperfeiçoar a Iegislação e as ações de combate ao racismo. No desenvolvimento dos trabalhos, a Comissâo se dividiu em cinco Grupos de Trabalho temáticos que estudam e avaliam, medidas de combate ao racismo institucional.