Destino Turístico: O Brasil se vê em São Paulo

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Em um trabalho integrado, envolvendo a área econômica e o Conselho de Turismo – que reúne entidades empresariais do setor –, conectando inovação, tecnologia e negócios, a Fecomércio-SP aponta caminhos para o setor se reinventar no pós-pandemia e avançar. A capital São Paulo é um case de como os eventos e o turismo de negócios, trabalhando lado a lado com a valorização da diversidade e da cultura, geram resultados positivos para o turismo.

Por gerar empregos, renda e novos negócios, o turismo é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento socioeconômico mundo afora. No caso brasileiro, a diversidade da cultura e das belezas naturais poderia colocar o País em uma posição privilegiada em relação a outros destinos. O setor, no entanto, não é encarado como estratégico na formulação de políticas públicas. O mais indicado, segundo os especialistas, seria desenvolver um olhar em rede, no qual cada setor contribui e impacta o outro.

Desde 2003, com a criação do Ministério do Turismo, até meados de 2010, o segmento se fortaleceu. Mas, passados os investimentos feitos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o turismo segue em posição periférica.

Acesse ao lado o ranking International Tourism Highlights, de 2020, da Organização Mundial do Turismo.

O México é o emergente que mais cresce, ano a ano, entre os destinos mais visitados, de acordo com o ranking International Tourism Highlights, de 2020, da Organização Mundial do Turismo (UNWTO, na sigla em inglês). O país passou do 15º, em 2013, para o sétimo destino mais visitado em 2019, com 45 milhões de turistas. O turismo representa 9% do Produto Interno Bruto (PIB) mexicano e tem crescido em média 10% ao ano. O Brasil, em comparação, não apareceu entre os 50 destinos mais visitados do mundo em 2019. Mesmo nas Américas, figurou na sexta posição, com 6,4 milhões de visitantes. No mesmo ano, o PIB do turismo representava 7,7% de tudo o que o Brasil produziu. Diante da pandemia, passou a responder por 5,5%.

Cidade inovadora

Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio-SP

Apesar de não estar imune às instabilidades nacionais, a cidade de São Paulo desponta como referência em tendências do turismo brasileiro. Grandes eventos, como a Parada LGBTQI+ e a São Paulo Fashion Week (SPFW), fortalecem o calendário dos paulistanos. O carnaval de rua de São Paulo, que caiu nas graças do público na última década, também impulsiona esse aquecimento. Em 2020, movimentou mais de 15 milhões de pessoas e cerca de R$ 725 milhões, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP).

Para Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio-SP, a capital paulista é um centro de diversidade em constante transformação – o que estimula ideias inovadoras. “Não é à toa que São Paulo concentra o turismo nas áreas de negócios, saúde, moda, tecnologia e educação; e abriga grande número de startups”, afirma. O impacto do fechamento do comércio para conter o coronavírus fez o turismo paulistano encolher quase 90% em 2020, na comparação com o período pré-pandemia. “No auge da pandemia, o faturamento chegou a R$ 100 milhões, sendo que, em 2019, as atividades de turismo e eventos movimentavam cerca de R$ 1 bilhão na capital”, aponta Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomércioSP.

A retomada gradual do setor veio com o auxílio da tecnologia. Soluções, como os eventos on-line e aplicativos de serviços, guiaram a recuperação. Atualmente, o setor paulistano sustenta um aumento de 39%, na comparação entre dezembro de 2021 e o mesmo mês de 2020, de acordo com o Índice Mensal de Atividade do Turismo (IMAT), apurado pela Fecomércio-SP e pela SPTuris, empresa oficial de turismo e eventos da cidade.

Foi durante a pandemia que o KAYAK Brasil, multinacional de pesquisa de viagens, investiu na melhoria das ferramentas tecnológicas. A empresa lançou um mapa que mostra as restrições impostas pelos destinos e outras funcionalidades. “Vimos os volumes de buscas diminuírem, mas entendemos o que os clientes precisavam e geramos informações que possibilitaram a eles decidir qual o melhor momento para viajar”, relata Gustavo Vedovato, country manager do KAYAK no Brasil.

Outra aposta da empresa foi uma plataforma de gestão para o

Estância de Campos do Jordão 

segmento empresarial. “É um importante aliado para simplificar as aprovações e reduzir os custos, adicionando suas políticas internas de preços”, explica Vedovato. “Nada substitui o presencial, porém a experiência digital veio para ficar.

As empresas perceberam que é possível transmitir conhecimento on-line e atrair o público, principalmente em encontros menores”, diz Alexandre Rodrigues, CEO da Events, empresa que atua no meio, ao comentar sobre a expansão dos eventos híbridos, que, para ele, deverão permanecer ativos no pós-pandemia.

No segmento de viagens corporativas, o impacto também foi sentido. No País, a queda foi de cerca de R$ 100 bilhões em faturamento nos últimos dois anos, segundo um levantamento feito pela Fecomércio-SP e pela Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev). Giovana Jannuzzelli, diretoraexecutiva da Alagev, explica que a redução de orçamento para viagens executivas e a diminuição no número de voos diários, em função do aumento dos preços dos combustíveis, são alguns dos fatores para essa recuperação lenta.

Fortaleza de Itaipu em Praia Grande

Interior forte

Além da capital, o Estado de São Paulo dispõe de outras atrações competitivas. O litoral paulista foi o destino brasileiro mais buscado neste início de ano, na comparação com 2019, segundo o KAYAK Brasil. Praia Grande, no litoral, aparece como a líder em buscas por hospedagens, com um aumento de procura superior a 1.000%, seguida por Guarujá, com alta de 700%.

Sesc Bertioga

Entre 2019 e 2021, o governo estadual investiu R$ 534 milhões em infraestrutura nas 70 estâncias e nos 140 municípios de interesse turístico. Para Marquinho Oliveira, presidente da Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo (Aprecesp) e prefeito de Morungaba, o trabalho conjunto de prefeituras, governo estadual e Poder Legislativo tem sido decisivo. “Graças à união de esforços, somos líderes em vacinação, celebramos investimentos recordes e o estado se tornou referência na retomada segura das atividades turísticas.”

Olho no futuro

Ainda que o setor esteja se recuperando, Mariana, da Fecomércio-SP, sublinha que são necessárias outras ações, como a melhoria do Fundo Geral de Turismo (Fungetur), a ampliação de programas de incentivo à produção audiovisual e mais atividades de promoção. “Não se pode ignorar que as empresas continuam afetadas pelos gravíssimos impactos da pandemia, pois tiveram que reduzir a mão de obra e os investimentos quase a zero”, afirma.

Cidade de Aparecida, conhecida pelo turismo religioso.

Ela destaca ainda o impacto negativo da Medida Provisória (MP) nº 1.094/2021, que elevou de 6% para 25% o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre as remessas ao exterior nos serviços de agências e operadoras. “Essa alíquota é abusiva, encarece as viagens e deixa as empresas brasileiras em desvantagem perante as concorrentes internacionais”, alerta. O turismo nacional faturou R$ 152,4 bilhões em 2021, tendo um crescimento de 12% em relação a 2020. Entretanto, o nível ainda está 24,2% abaixo de 2019, quando o faturamento foi de R$ 201,2 bilhões – já descontada a inflação, segundo a Fecomércio-SP.

Um crescimento sustentado depende da situação econômica do País nos próximos meses. Em março, o Congresso Nacional derrubou o veto presidencial aos dispositivos do Projeto de Lei (PL) nº 5.638/2020, que cria o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).

A derrubada garantiu isenção fiscal ao setor durante 60 meses nos impostos PIS, Pasep, Cofins, CSLL e IRPJ, a partir da promulgação do PL. “A isenção gerará um impacto grande a todas as empresas da cadeia, ajudando na retomada das atividades”, afirma Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil). Empresários da cadeia produtiva do turismo uniram esforços em torno do projeto Vai Turismo – Rumo ao Futuro, uma iniciativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apoiada pela Fecomércio-SP.

O movimento tem uma agenda com mais de 40 diretrizes para guiar a retomada pós-pandemia em conjunto com o poder público. Investimentos em inovação, qualificação de profissionais e busca por um orçamento viável para desenvolver a atividade turística estão entre as principais pautas defendidas.

Cetur/ CNC reuniu representações do turismo na Fecomércio-SP para debater o projeto Vai Turismo

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