* Diretor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços, e Turismo (CNC) e presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), responsável pelo Conselho Empresarial de Turismo e Hopsitalidade (Cetur / CNC)
As pessoas parecem ter ficado tanto tempo enclausuradas que, neste momento, o desejo é “viver”, no sentido mais profundo que esta palavra pode representar. Mas, obviamente, ninguém (e refiro-me aqui a turistas e profissionais do setor de turismo) pode deixar de lado os cuidados médicos para evitar a contaminação. Até porque a pandemia não acabou – é bom que se diga!
Em geral, os brasileiros têm privilegiado destinos nacionais e ligados a atividades ao ar livre. Uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) no Brasil evidencia que 70% dos entrevistados pretendem viajar o quanto antes. Na mesma sondagem, realizada há quase um ano, 76% disseram que se manteriam longe de estradas e aeroportos, numa evidência clara de que as coisas estão mudando.
Pelo levantamento, muita gente vai viajar neste fim de ano para lazer ou reencontros. Destes, 51% ficarão em hotéis e pousadas, e 27% visitarão amigos e familiares. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta crescimento de 19,8%, no que deve representar a maior taxa de crescimento do setor em 11 anos.
Aliás, os hotéis tiveram uma amostra dessa demanda reprimida no feriado prolongado de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, no último dia 12 de outubro. A taxa de ocupação média, que oscilou entre 30% e 50% em 2020, chegou a 70% em algumas cidades, segundo o Ministério do Turismo. Destinos tradicionais de réveillon, como o Rio de Janeiro, esperam lotação máxima entre dezembro e janeiro.
O reaquecimento do turismo levou empresas do setor a contratar, às pressas, para recompor os seus quadros; e colaboradores dispensados no ano passado já foram convocados, sem contar as contratações temporárias. A volta do turismo também se reflete em outros segmentos. A liberação da temporada de cruzeiros no Brasil entre novembro e abril deve gerar em torno de 35 mil vagas diretas e indiretas, diz a CLIA Brasil, associação do setor.
Ainda que haja este aquecimento, não há dúvidas de que a retomada será gradual no país e, se não houver piora da pandemia, o setor deve se recuperar totalmente em dois ou três anos. Além dos riscos sanitários que ainda existem, o preço das passagens aéreas tem sido outro entrave. Em 12 meses, os bilhetes subiram 56,81% sem IPCA, do IBGE.
Entre os destinos mais procurados, além de todo o Nordeste, estão Minas, Rio e Gramado (RS). No exterior, o destaque são destinos com menos restrições aos brasileiros, como Dubai, México e Maldivas. Mas, com dólar alto, barreiras sanitárias e o medo de variantes do coronavírus, as viagens internacionais só devem ter impulso em 2022.
Para os bares e restaurantes, a aposta é na movimentação de confraternizações. É claro que ainda vivemos um movimento atípico com a pandemia, mas as expectativas são grandes. O ponto é que é preciso, agora, focar em 2022, já que o próximo ano vai definir bastante o andamento da economia brasileira como um todo, se considerarmos questões delicadas como a crise hídrica e o aumento da inflação.
Esperamos, de verdade, que os efeitos da pandemia estejam se esvaindo; que a população conclua o ciclo vacinal, garantindo uma proteção mais ampla para todos; que se evite aglomerações; e que as pessoas possam, sim, descansar, comemorar, rever seus familiares e amigos, depois de uma fase tão difícil, mas que parece chegar ao fim.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense de 20 de outubro de 2021