Um novo roteiro para o turismo

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*Abram Abe Szajman, presidente da Fecomércio-SP e dos conselhos regionais do Sesc e do Senac de São Paulo.

Quando o mundo mal começava a vislumbrar a possibilidade de retorno ao crescimento econômico, após dois anos de pandemia, o impacto da guerra no leste da Europa afetou os planos de recuperação de diversos segmentos econômicos. A elevação dos preços do petróleo vem pressionando uma inflação duplamente perversa para o turismo – pois significa, simultaneamente, preços mais altos e menor excedente na renda familiar para gastos com viagens.

Somado a este cenário de dificuldades globais, registre-se o fato de o turismo brasileiro ter tido uma sangria de R$ 110 bilhões no biênio de 2020 a 2021, em comparação com anos anteriores – que já não apresentaram desempenho satisfatório. A alta de 12% no ano passado não foi suficiente para recompor a retração de 32,3% verificada em 2020, segundo a Fecomércio-SP.

O setor turístico pode e deve contribuir muito mais para a competitividade nacional, tanto na maior movimentação do ambiente doméstico como na concorrência com outros destinos do mundo. Mas, para isso, precisa ser encarado como um segmento estratégico pelo Estado, o que não tem ocorrido na última década. A queda no orçamento federal do Turismo chegou aos menores níveis desde a criação do ministério, em 2003. Um estudo acadêmico, que analisou o orçamento da pasta entre 2003 e 2018, mostra que, desde 2010, ela sofre com cortes e descontinuidade de programas.

Faltam políticas públicas contínuas que fomentem o seu desenvolvimento, principalmente na infraestrutura de regiões turísticas e na qualificação de mão de obra, que responde por 10,31% do total dos empregos formais no País, considerando atividades diretas, compartilhadas e indiretas. Além disso, é um setor que distribui renda ao mesmo tempo em que a produz. Um bilhão de dólares que entram na conta do turismo significa, diretamente, sem intermediários, o ganha-pão de milhões de trabalhadores informais nas cidades turísticas e nos mais de oito mil quilômetros de praias do Brasil.

No turismo de negócios, muitos gestores passaram a avaliar a real necessidade de viagens, quando resultados satisfatórios são obtidos em encontros remotos. Por essa razão, nenhum planejamento, público ou privado, terá resultado satisfatório com base nos diferenciais oferecidos pré-pandemia. É preciso deixar claro, ainda, que a estratégia de atração de investimentos depende da preservação de nosso patrimônio histórico, natural e cultural, o que significa valorizar a nossa diversidade. Temos muitos brasis dentro de um só, são inúmeras oportunidades a serem aproveitadas.

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