Murilo Pascoal – Presidente do Conselho do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat)
Carolina Negri – Diretora executiva do Sistema Integrado de Parques e atrações
Em nosso último artigo para esta publicação, em meados de 2019, falamos sobre o impacto dos parques temáticos na economia de uma região, representando muito
além de meros atrativos turísticos. Um empreendimento é responsável pela geração de empregos, diretos e indiretos, pelo impulso de comércio local e de uma cadeia de fornecedores, por estimular a própria infraestrutura básica, de acesso rodoviário e aeroportos.
Justamente por ser um elo fundamental da cadeia do Turismo, assim que a crise sanitária mundial dava os primeiros indícios de gravidade, os empreendimentos mundo afora passaram a ter suas portas fechadas. Em meados de março de 2020, ouvimos a maior potência mundial do setor, Walt Disney World, anunciar o fechamento de todos os seus parques em escala global pela primeira vez na história da companhia.
Com a ausência do movimento turístico por quase um ano, seja no mercado doméstico, seja no internacional, não foi somente um parque que fechou suas portas. Toda a cadeia que dele depende, de repente, ficou sem renda. O receptivo, o guia, o comerciante que vende boia e protetor solar, o pipoqueiro, a rendeira e o ambulante. Conscientes da importância e relevância na economia local, no contexto em que estão inseridos, os empreendimentos se mobilizaram em diversas campanhas, de arrecadação de alimentos a produtos de higiene, e fizeram a sua parte no contexto da responsabilidade social da sua região.
Contexto do setor
A última estimativa do setor, feita em 2019, apontou aproximadamente 55 milhões de visitantes; geração de 130 mil empregos diretos e indiretos; e faturamento de R$ 5 bilhões entre parques temáticos, aquáticos, de diversão, itinerantes, atrações turísticas e centros de entretenimento familiar.
O setor, cuja essência demanda um planejamento constante de novos investimentos, uma vez que depende da sua atratividade para captar novos visitantes, ou ainda levar o mesmo visitante para uma nova visita, vinha apresentando bons sinais de crescimento nos últimos anos, seja com novidades nos parques já existentes, seja com a inauguração de novos empreendimentos. Todos os associados Sindepat tiveram, entre 2018 e 2019, alguma novidade, de uma nova atração a serviços implementados.
Um sinal muito claro dessa essência em inovação pode ser confirmado com o fato de que, mesmo com a pandemia, muitos parques e atrações continuaram seus investimentos ao longo do ano, em novas áreas temáticas, toboáguas, atrações, expansões e serviços. Houve ainda algumas aberturas, como a inauguração de um museu de automóvel e da roda-gigante FG Big Wheel, ambos em Balneário Camboriú – SC, em dezembro de 2020, e a inauguração do BioParque do Rio de Janeiro (o antigo zoológico transformado em um centro de conservação), em março deste ano, mostrando a resiliência do setor e a aposta do setor privado na atividade turística.
E estávamos confiantes de que o melhor ainda estava por vir. Isso porque, em outubro de 2019, a atuação do Sindepat junto ao Ministério do Turismo e à Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, levou à isenção permanente do imposto de importação de uma série de
equipamentos para parques e atrações, com vigência a partir de janeiro de 2020. A alta alíquota desse imposto, mesmo não existindo produção nacional, chegava a dobrar o valor dos equipamentos, cujo custo dolarizado já é elevado e ao qual é somada a taxa de frete – quase sempre para equipamentos de grande volume e diversas especificidades em seu deslocamento.
Quando o setor se viu livre desse imposto, em janeiro do ano passado, depois de mais de duas décadas de lutas, nos deparamos com a crise desencadeada pela pandemia da Covid-19 no mundo.
Pandemia e a retomada
No Brasil, os parques e atrações tiveram suas operações paralisadas entre março e abril, e reabriram a partir de julho. Alguns voltaram somente a partir de setembro. É uma atividade que não permite entregar seu produto por meio de aplicativos delivery, tampouco estocar uma descida de bondinho ou um giro na roda-gigante não vivida naquele dia. Há gestão de pessoas atuando em postos de trabalho que, na sua maior parte, só se dá em formato presencial. Sem público, sem famílias e sem crianças, não se fazem necessárias as inúmeras atividades do nosso negócio. Não é possível embalar uma descida na montanha-russa.
As medidas do governo foram fundamentais para ajudar as empresas a passar por aquele momento. Tanto as trabalhistas, ajudando as empresas que estavam com seu faturamento a zero por meses a manter seus colaboradores e pagar parte do salário em casos de redução de jornada e suspensão de
contrato, quanto aquelas que permitiram um alívio do caixa das empresas, como a que flexibilizou a negociação junto aos consumidores de serviços já contratados; ou ainda a medida que implementou aporte extraordinário ao Fundo Geral do Turismo (Fungetur) e a alguns fundos garantidores de crédito.
Os empreendimentos se organizaram para implementar rígidos protocolos sanitários em todos os pontos das operações, com o apoio das associações do setor, Sindepat e Associação das Empresas de Parques de Diversão do Brasil (Adibra), que os elaboraram com a participação de diversos profissionais do setor e pautados por parâmetros internacionais, tanto para funcionários como para visitantes. Novos processos, novos insumos e muito treinamento permearam os parques e atrações enquanto as portas estavam fechadas para o público.
Com as notícias da produção de vacinação em diversos cantos do mundo, e os números da pandemia no Brasil dando sinais de decréscimo, parecia que bons ventos se aproximavam.
O último trimestre de 2020 confirmou o que inúmeras pesquisas de tendências da indústria de viagens e turismo apontavam: um público ávido para sair de casa depois do susto e de tamanha reclusão. A demanda realmente mostrou sinais de reação, com fluxo de visitantes muitas vezes chegando ao mesmo patamar do que foi 2019. Percebeu-se, em alguns casos, inclusive, o aumento do ticket médio.
Mas a retomada foi logo interrompida pela chegada da segunda onda, que novamente paralisou as operações e postergou para um futuro ainda sem prazo determinado a esperança das boas previsões que existiam para a alta temporada (janeiro e fevereiro). Atualmente, quase a totalidade dos empreendimentos brasileiros está novamente fechada.
Há medidas que precisam ser urgentemente tomadas pelo governo para ajudar o setor neste momento, assegurando que, assim que a crise diminuir, os parques e atrações, assim como diversos outros elos do Turismo, possam se tornar uma alavanca para o crescimento econômico.
Entre as medidas, apoiar empresários que continuam sem faturamento a manter seus empregados, com quitação de parte da folha de pagamento; e, do ponto de vista tributário, uma desoneração temporária de impostos, permitindo a estas empresas um alívio no caixa, tão sufocado desde o fim do primeiro trimestre de 2020. Empresas que, ao primeiro sinal de retomada da demanda, imediatamente voltarão a crescer e contratar. Além disso, será fundamental o investimento do Ministério do Turismo (MTur) em campanhas de divulgação dos destinos brasileiros, estimulando na demanda a vontade de descobrir seu País.
Estudos e pesquisas apontam que o turismo doméstico brasileiro será o grande pilar para a recuperação da economia. Em um país que nunca dependeu de turistas estrangeiros, mantendo por décadas o pífio número de 6 milhões de visitantes/ano, estas previsões se tornam ainda mais verdadeiras, considerando o esgotamento emocional de todos, depois de meses e meses em casa; a elevação do dólar; e a impossibilidade de viagens internacionais para diversos destinos, em razão do fechamento das fronteiras para brasileiros.
Não temos dúvida do tamanho do potencial do turismo brasileiro, para os próprios brasileiros e para o mundo. Nossos parques e atrações, nossos colaboradores e nossos investimentos, todos são feitos e existem por uma razão: por acreditarmos nesta indústria. Que gera emprego, renda, desenvolvimento, que olha e cuida do meio ambiente e da comunidade em que está inserido, e que gera o melhor ingrediente na bagagem de volta de um turista: a experiência, a memória e o sorriso no rosto. Estamos preparados e ansiosos para voltar nossa produção.
Confira a revista Turismo em Pauta edição 46