Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
A crise do setor têxtil eclodiu, a partir de 1O de janeiro deste ano, ao fim de quatro décadas de quotas internacionais, num sistema cujo propósito era dar tempo aos países desenvolvidos para modernizarem sua indústria e recuperarem a capacidade de competir com as economias emergentes.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
A crise do setor têxtil eclodiu, a partir de 1O de janeiro deste ano, ao fim de quatro décadas de quotas internacionais, num sistema cujo propósito era dar tempo aos países desenvolvidos para modernizarem sua indústria e recuperarem a capacidade de competir com as economias emergentes. A crise tornou-se mais aguda, com a forte presença exportadora da China, no mercado mundial.
A União Européia trata, neste momento, de negociar um mecanismo de limitação das importações provenientes da China. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, 75 milhões de peças de vestuário estão bloqueadas nas alfândegas de diversos países da Europa. A invasão dos produtos chineses significou, em junho deste ano, 1,7 bilhão de euros, ou seja, mais de 85%, do que a importação de junho de 2004.
O conflito gerado pelas vantagens competitivas da China, numa atividade que emprega mão-de-obra a baixos salários, tem vários ângulos, no contexto da União Européia. Um deles é a oposição ao sistema de quotas pelos países partidários do livre comércio, como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a Holanda.
Os países nórdicos pedem à União Européia o aumento das quotas de 2005, enquanto que os países de atividade têxtil relevante como a França, a Itália, a Espanha e a Polônia aceitam o desbloqueio do que está retido nas alfândegas, dentro dos limites das quotas fixadas anteriormente.
Como resultado da pressão destes países, o comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, acaba de negociar com a China a renovação de limites para dez categorias de produtos. As quotas negociadas fixam um aumento das importações provenientes da China entre 8% e 12,5%, até 2007. Um outro aspecto é o embate entre produtores, dentro de cada país, tendo os importadores de um lado e os comerciantes, de outro.
O comércio varejista, por exemplo, quer o desbloqueio imediato de toda a mercadoria retida pelas autoridades aduaneiras, pela simples razão de que, com a mudança de estação, será demasiado tarde e o prejuízo certo. Claro está que a dissensão entre países e segmentos econômicos, quanto ao tema das quotas e liberação de mercadorias, favorece a capacidade de negociações da China.
Os Estados Unidos, que impuseram quotas para frear as importações chinesas, estão atualmente preparando um acordo sobre têxteis que possa ser assinado, brevemente, entre os dois países. Contudo, como no exemplo europeu, os Estados Unidos terão dificuldade em encontrar uma solução para ação de empregos. Embora país emergente, com uma vantagem absoluta no mercado mundial sobre a China, no tocante à matéria-prima algodão, o Brasil tam0bém não está imune à concorrência chinesa. Na guerra dos têxteis, sua situação não é muito diferente da existente nos países de economia mais avançada.
Na concorrência com a China, não só o diferencial de salários pesa contra nós, como a carga tributária chinesa é um terço da brasileira. Nesse sentido, é eloqüente e fala por si mesmo o saldo negativo de US$ 220 milhões, observado em nosso comércio de têxteis com a China, em 2004. O mercado chinês é extremamente promissor para nossas exportações, mas temos que negociar com cuidado, do lado das importações. É fundamental aproveitar todas as oportunidades abertas aos produtos primários, sem esquecer a adequada proteção a alguns setores industriais.
Publicado no Jornal do Commercio de 05/10/2005, Caderno Opinião, pág. A-17.