Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
A valorização do euro que do início de abril a fins de julho passou de 0,88 centavos de dólar para uma flutuação em torno da paridade (1 euro igual a 1 dólar) não tem uma explicação clássica. De um modo geral, a moeda de um país se desvaloriza em relação à de outro país quando o primeiro tem um ritmo maior de inflação.
Este, porém, não é o caso, quando se comparam os Estados Unidos e a União Européia.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
A valorização do euro que do início de abril a fins de julho passou de 0,88 centavos de dólar para uma flutuação em torno da paridade (1 euro igual a 1 dólar) não tem uma explicação clássica. De um modo geral, a moeda de um país se desvaloriza em relação à de outro país quando o primeiro tem um ritmo maior de inflação.
Este, porém, não é o caso, quando se comparam os Estados Unidos e a União Européia. Medida pelos índices de preços ao consumidor, a taxa de inflação até aqui observada e a taxa de inflação projetada para o ano corrente é de menor intensidade nos Estados Unidos do que na área do euro. A explicação dessa forte valorização do euro terá de ser encontrada em outros argumentos.
Na esteira da crise de confiança gerada pelas recentes fraudes contábeis levadas a cabo por empresas ícones do capitalismo americano, de pouco adiantaram as tentativas do Presidente Bush e de Alan Greenspan, o poderoso presidente do Sistema de Reserva Federal, no sentido de acalmar o mercado financeiro, assinalando que são sólidos os fundamentos da economia americana. À primeira vista, não deixam de ter razão. A inflação está baixa, a produtividade cresce, o ritmo dos investimentos e os gastos dos consumidores continuam altos. E, no entanto, a despeito desses bons fundamentos, os consumidores estão preocupados, como demonstra o índice de Confiança da Universidade de Michigan, que retrocedeu ao nível de novembro do ano passado. Muito provavelmente, num país de capitalismo difuso e dezenas de milhões de pequenos investidores, presentes nas Bolsas de Valores, “o efeito riqueza” causado pelo rompimento da bolha especulativa está na raiz dessa preocupação. Subitamente, esses investidores se sentem empobrecidos.
Mas não é só a desconfiança no capitalismo americano, muito provavelmente temporária, que está nas origens da desvalorização do dólar frente ao euro. Assim como no caso do Brasil, onde tendo diminuído a oferta de dólares provenientes dos investimentos estrangeiros que financiam o déficit do balanço de pagamentos, a verdadeira razão dos desequilíbrios no mercado de capitais pode ser de natureza estrutural.
Na administração do presidente Bush, desapareceu o superávit fiscal, herdado de seu predecessor, absorvido pela redução de impostos, ao mesmo tempo em que cresceram enormemente os gastos militares. Esse desequilíbrio se apresenta de modo inequívoco, no desempenho do balanço de pagamentos em conta corrente. Para este ano, estima-se que tal déficit representará 4,3% do PIB dos Estados Unidos e a previsão para 2003 chega a 4,6%. Em contrapartida, as previsões para a área do euro são de um superávit de 0,4% do PIB neste ano e de 0,5% no próximo ano. Ao que tudo indica, aí está a razão maior da apreciação do euro em relação ao dólar.
É bem verdade que a paridade entre as duas moedas não tem um significado absoluto. Qualquer que seja essa relação, os Estados Unidos, durante muitos anos, continuarão sendo a maior potência mundial, em termos econômicos, financeiros, militar, universitário, científico e tecnológico.
As dificuldades momentâneas pelas quais passa a economia americana podem até explicar a valorização do euro, mas não chegam a por em cheque o sistema capitalista. Este não está em causa, quando as forças do mercado operam livremente, dentro de padrões éticos ditados pelas regras do próprio mercado. Isso, entretanto, não deve inibir o poder regulatório do Estado, com o objetivo básico e eficiente de preservar a lisura das transações, coibindo a corrupção e a fraude.
Publicado no Jornal do Commercio de 01/08/2002, Caderno Perspectivas, pág. A-18.