As contas externas e o PIB (Jornal do Commercio, 14/09/2005)

Compartilhe:

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O semanário britânico The Economist publicou previsões feitas por analistas de um grupo de instituições financeiras, como o Deutsche Bank, o HSBC e o UBS, entre outras, a respeito dos saldos em conta corrente de diversos países, em percentagem do PIB.


Para o Brasil, a previsão é de um saldo positivo de 1,4% do PIB em 2005 e 0,6% em 2006. Em números redondos, estamos falando de algo em torno de US$ 9 bilhões, neste ano e US$ 4 bilhões, no próximo.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O semanário britânico The Economist publicou previsões feitas por analistas de um grupo de instituições financeiras, como o Deutsche Bank, o HSBC e o UBS, entre outras, a respeito dos saldos em conta corrente de diversos países, em percentagem do PIB.


Para o Brasil, a previsão é de um saldo positivo de 1,4% do PIB em 2005 e 0,6% em 2006. Em números redondos, estamos falando de algo em torno de US$ 9 bilhões, neste ano e US$ 4 bilhões, no próximo. Como a conta de serviços é estruturalmente deficitária, os saldos previstos serão resultado do desempenho das exportações. Muito provavelmente, a queda na relação entre um ano e outro resultaria do desconto, pelos analistas, da perda de competitividade via câmbio valorizado e aumento das importações.


Seja como for, para o Brasil, as previsões   sobre o  comportamento do balanço em c/c, medido em relação ao PIB, contrastam com os saldos negativos para países do Leste Europeu recentemente incorporados à União Européia, como  a Polônia e a Hungria. Neste último país, a relação é de –8,1%, tanto em 2005 como 2006. Da mesma forma, na América Latina, México, Colômbia e Peru denotariam uma relação negativa, embora diferenciada de um país a outro. Para a Argentina, a expectativa é de um saldo positivo de 1,0% do PIB em 2005 e 0,2% em 2006.


Por sua vez, a Coréia do Sul e Taiwan apresentam a relação saldo em conta corrente/PIB bem melhor que a do Brasil. A previsão, para a Coréia, é de 2,6% em 2005 e 1,8% em 2006 e, para Taiwan, de 4,7% e 4,4%, respectivamente.


Além disso, Hong Kong e Cingapura apresentam uma relação muito alta, mas são casos extremos, que distorcem qualquer comparação. Dada a pequena dimensão territorial, esses países representam verdadeiras plataformas de exportação de bens e serviços, baseadas largamente na operosidade da força-de-trabalho chinesa. Cingapura chega a uma relação prevista de 25% do PIB em 2005 e 24,4% em 2006. Casos extremos também, embora por motivo diferente, são o da Rússia, com relação de 10,7%, em 2005, e 7,1%, em 2006, e o da Venezuela com 12% e 9%, em cada um desse dois anos, respectivamente. Para esses dois países, a expectativa dos analistas está fortemente influenciada pelos ganhos extraordinários derivados da escalada de preços do petróleo.


Por último, a China Continental apresentaria uma relação de 5,9% em 2005 e 5% em 2006, acusando, talvez, um efeito da recente minivalorização de sua moeda.

 

Desse rol de previsões, que vinculam uma expectativa das contas externas ao PIB de cada país, é possível concluir que a relação para o Brasil poderia ser ainda mais favorável do que a atualmente prevista, não fosse o câmbio valorizado que começa a comprometer o desempenho de segmentos voltados para a exportação. Também é possível concluir que, na visão dos analistas internacionais, todos os países que apresentam hoje uma relação positiva, terão, sem exceção, uma relação menor em 2006. Dessa forma, parece que a expectativa assim criada seria sinal de que estaria em marcha um ajuste nas contas externas dos Estados Unidos.


Publicado no Jornal do Commercio, de 14/09/2005, Caderno Opinião, pág. A-17.

Leia mais

Rolar para cima