Comércio aproveita o câmbio e faz a festa com os importados

Compartilhe:

A indústria brasileira reclama da concorrência com os produtos importados, mas o comércio é pura felicidade. O setor espera superar as vendas do Natal do ano passado, apostando nos produtos vindos do exterior. Até a semana passada, as compras no mercado externo já eram 24,8% superiores às de 2005, mas esse índice é ainda maior nos bens de consumo roupas, alimentos, brinquedos, eletrodomésticos chegando a 41,3%.


Esse movimento não está ocorrendo à toa. A valorização do real deixou o dólar “barato”, valendo pouco mais de R$ 2 desde o início do ano, o que facilitou as importações.

A indústria brasileira reclama da concorrência com os produtos importados, mas o comércio é pura felicidade. O setor espera superar as vendas do Natal do ano passado, apostando nos produtos vindos do exterior. Até a semana passada, as compras no mercado externo já eram 24,8% superiores às de 2005, mas esse índice é ainda maior nos bens de consumo roupas, alimentos, brinquedos, eletrodomésticos chegando a 41,3%.


Esse movimento não está ocorrendo à toa. A valorização do real deixou o dólar “barato”, valendo pouco mais de R$ 2 desde o início do ano, o que facilitou as importações. Mais do que isso, países asiáticos, especialmente a China, trazem para o Brasil produtos com preços imbatíveis, em alguns casos bem abaixo do que a indústria nacional consegue oferecer. “A entrada de importados deve ser mais intensa nas redes varejistas”, avalia o coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria, Flávio Castelo Branco. “O consumidor quer mesmo é pagar mais barato. É uma decisão pelo preço.”


Subfaturamento


Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, essa lógica tem sido mortal. “O consumidor brasileiro quer preço e em qualquer situação o brinquedo importado chega mais barato. Eles entram no país, em média, custando US$ 10, enquanto um brinquedo similar nacional fica em US$ 21”, afirma. Batista da Costa reclama da concorrência desleal. “Os brinquedos importados têm preço infinitamente menor que os nacionais porque 95% dos deles são subfaturados. O brinquedo custa US$ 10, mas é declarado como custando US$ 0,10”, diz.


O ramo de brinquedos está muito longe de falar sozinho sobre esse tema. Lamentos semelhantes são comuns em outros ramos, como os de vestuário e calçados o último ainda mais prejudicado pela competição com importados a preços baixos. No setor de calçados, a participação dos produtos importados no consumo nacional passou de 18,2% para 29,2% do ano passado para cá. E mesmo sem alterações no consumo total, as importações cresceram 15,6%.


“As importações de calçados vêm crescendo forte ano a ano, especialmente da China, e com um preço que a indústria brasileira não tem condições de alcançar”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Ricardo Wirth. “Não conseguimos concorrer com a China. Hoje, grandes clientes que querem algo como 100 mil pares não compram mais no Brasil. Vão buscar na China. Então, estamos indo para um nicho onde o preço não é a principal escolha. São vendas menores, mas com modelos mais elaborados e maior valor agregado”, explica o empresário.


A China é, de fato, um adversário e tanto. Entre janeiro e outubro deste ano o Brasil importou 15 milhões de pares de sapatos de diversos países, mas 11,8 milhões deles (ou 62,4%) vieram das fábricas chinesas, e por um preço, como disse Wirth, difícil de acompanhar. Enquanto os calçados chineses chegam custando, em média, US$ 5,70, o preço médio do produto nacional é de US$ 10,30.


A conta também é desfavorável no setor de têxteis e confecções e, mais uma vez, os produtos chineses são o maior exemplo da diferença. “Somos competitivos, temos produtos tão baratos quanto em outros países, mas com comércio desleal a coisa fica feia”, reclama o superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.


Ele conta que, no ano passado, o Brasil registrou a entrada de 20 mil toneladas de têxteis chineses, enquanto para a China o total enviado para cá chegou a 32 mil toneladas. “Onde foram parar essas 12 mil toneladas? E não é só isso. A Argentina, aqui do lado, importa têxteis da China por US$ 16 o quilo, enquanto no Brasil, em 2005, o preço era de US$ 5,50”, explica.


A situação melhorou bastante este ano, quando os têxteis chineses chegaram ao país custando US$ 11,50 o quilo, mas não foi o suficiente em média os produtos brasileiros custam entre US$ 18 e US$ 20 o quilo. “A despeito do varejo ter crescido 1,8% até outubro, a produção recuou entre 5% e 6%, o que mostra que a produção brasileira está sendo substituída por artigos de fora”, diz Pimentel.


A competição com os importados não para por aí. Também aproveitando o câmbio, os supermercados brasileiros têm feito encomendas fora do país entre 10% e 15% superiores às do ano passado. Champagnes e vinhos devem liderar as vendas, mas cestas natalinas com artigos dos Estados Unidos e da Europa devem fazer sucesso. Segundo a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), os preços recuaram, em média, 10% em relação ao Natal de 2005.


Vitrines.


Nas grandes lojas de departamento, o reflexo desse boom importador está nas vitrines. A diferença é que, neste ano, produtos made in México, Filipinas, Tailândia e Vietnã passaram a disputar espaço com os chineses e os indianos. A expansão da oferta de artigos fabricados nesses, e em outros países tão ou mais competitivos, é parte de uma tendência que contaminou todo o varejo e que já é motivo de preocupação entre os industriais brasileiros.


Preocupadas em manter as gôndolas sempre abarrotadas de novidades e pechinchas, as lojas foram buscar em quase todos os cantos do mundo fornecedores externos alternativos. Essa política minimiza os efeitos de uma possível oscilação de oferta no caso de “pane” por parte dos grandes fabricantes globais. “É uma alternativa que as empresas abraçaram. Outros países, além de China e Índia, estão desenvolvendo produtos interessantes e vendendo até um pouquinho mais barato”, explica Moacir Moura, especialista em varejo.


A alavanca de tudo isso é o dólar baixo. De repente, os varejistas se deram conta de que é possível ampliar horizontes aproveitando as facilidades do momento no comércio exterior. Na ponta, o consumidor também se beneficia. “A pessoa que vai a uma loja e quer comprar procura por itens que atendem às suas necessidades. Não interessa de onde vem”, completa Moura.


 


 

Leia mais

Rolar para cima