Evolução do comércio varejista (Jornal do Commercio, 16/05/2002)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O cenário que, no momento, se vislumbra para o futuro do comércio varejista implica fundamentalmente três questões básicas: 1) a problemática da pequena e média empresa frente a organizações de grande porte; 2) a concentração de estabelecimentos varejistas em amplos espaços planejados para atendimento ao consumidor, tais como os “shoping centers”; e 3) a aplicação crescente de recursos tecnológicos da informática.


As grandes empresas do varejo, após crescerem fortem

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O cenário que, no momento, se vislumbra para o futuro do comércio varejista implica fundamentalmente três questões básicas: 1) a problemática da pequena e média empresa frente a organizações de grande porte; 2) a concentração de estabelecimentos varejistas em amplos espaços planejados para atendimento ao consumidor, tais como os “shoping centers”; e 3) a aplicação crescente de recursos tecnológicos da informática.


As grandes empresas do varejo, após crescerem fortemente no mercado interno, voltaram-se para o exterior, dentro de um processo de globalização cada vez mais nítido. Muitas delas colocam-se, hoje, entre as maiores empresas do mundo, rivalizando ou ultrapassando as grandes indústrias, em termos de operações globais. A WalMart, cadeia de lojas de descontos que se tornou a principal varejista do mundo, tem vendas maiores do que qualquer um de seus fornecedores, com um faturamento que, em 1999, foi o quarto maior entre todas as empresas norte-americanas. Na Europa, alguns varejistas no ramo de alimentação têm vendas maiores do que qualquer produtor, exceto Nestlé e Unilever.


Uma cadeia de varejistas de capital fechado, das mais famosas na Alemanha, a Metro, transformou-se na maior vendedora de computadores da Europa, nos seus principais pontos-de-venda em toda a região, onde o produto é comprado em lojas de departamentos e transportado pelo cliente, no sistema pague e leve.


J. C. Penney, loja de departamentos norte-americana, compra seus produtos de fornecedores espalhados por cinqüenta países e a Saks, uma cadeia de lojas de departamentos americana de médio porte, tornou-se a segunda maior cliente de fretamento de cargas da American Airlines. Nos Estados Unidos, muitas das principais empresas com melhor desempenho no mercado acionário, nos últimos vinte anos, são varejistas.


O segundo ponto envolve tendências reais recentes e surge das mudanças na maneira como bens e serviços chegam ao consumidor. Há algum tempo atrás, a cadeia de distribuição costumava ser controlada por fabricantes e atacadistas. O varejista era apenas um elo, para fazer chegar a mercadoria ao consumidor, mediante a vantagem de sua proximidade com o cliente. Os fabricantes é que decidiam que tipo de produto estava disponível e, em muitos países, a que preço esses produtos podiam ser vendidos ao público.


Esse sistema de distribuição, hoje, está sendo derrubado. A tradicional cadeia de fornecimento, fortalecida pelo impulso manufatureiro, está se tornando uma cadeia de demanda, conduzida pela exigência do consumidor. Mesmo no Japão, onde um labirinto de intermediários mantém os preços altos, permitindo que centenas de milhares de pequenas lojas sobrevivam, os varejistas mais competitivos começaram a importar produtos diretamente das fábricas.


Os varejistas conseguiram ganhar o controle sobre a distribuição não só porque decidiram a que preço os produtos são vendidos, mas, também, porque tanto as lojas individuais tradicionais, como as pequenas empresas de varejo se tornaram bem maiores e mais eficientes. Hoje, elas podem comprar em grande volume e realizar economias de escala, graças, principalmente aos avanços no campo dos transporte e da tecnologia da informação.


Alguns negociantes, estabelecidos de longa data, sobreviveram a essas mudanças e conseguiram manter uma clientela fiel, oferecendo-lhes um serviço personalizado e a preços mais baixos. Mas, como regra geral, as grandes empresas vão impondo seu estilo de negócios, reduzindo seus custos.


O terceiro capítulo na evolução do comércio varejista decorre do ingresso na tecnologia da informação e sua aplicação na administração de uma loja, na logística e na cadeia de distribuição. Sistemas de computadores sofisticados, instalados durante estes últimos quinze anos, podem informar instantaneamente aos varejistas sobre o que estão sendo vendidos em cada uma das centenas de lojas, quanto estão faturando sobre cada venda e, cada vez mais, quem são seus clientes. Graças aos computadores, uma empresa varejista bem administrada poderá não mais ficar às voltas com estoques, que podem não vender, ou sem produtos que os clientes querem comprar. O ônus do estoque passou do comércio para o fabricante.


É evidente que o chamado “comércio tradicional” venha perdendo mercado para os “shoppings” e lojas de departamentos mas, por outro lado, muitos estão criando suas próprias condições de sobrevivência, tais como as “delicatessens”, “bombonières”, “boutiques” de carnes, entre outros pequenos negócios. Há ainda a revitalização do pequeno comércio tradicional, a partir da atuação do poder público, outro aspecto importante em que, por exemplo, a Prefeitura de um Município trabalha em conjunto com o comércio de determinados logradouros, oferecendo melhor infra-estrutura e facilidades, através da concentração em determinados pontos da cidade, de que são exemplos notáveis o “Saara”, no Rio de Janeiro e a recente experiência desenvolvida em Curitiba.


Assim, conquanto o setor dos “shoppings centers” e supermercados apresente inexorável tendência ao crescimento, fica claro que ainda há espaço para o comércio tradicional, especialmente quando esse encontra, e ele sempre tem encontrado, novos caminhos e abordagens para permanecer atuante.


No Brasil, o pequeno comércio varejista ainda luta contra dois fatores que oneram enormemente seus custos operacionais, afetando, de forma dramática, o lucro das empresas. São eles a brutal carga tributária e a absurda taxa de juros. Justiça seja feita, porém, reconhecendo-se iniciativas como a criação de um sistema tributário especial, de que são exemplo o “Simples” e o “lucro presumido”, ao lado da implantação de linhas de crédito especialmente voltadas para a pequena e média empresas, com taxa de juros mais favoráveis.


Destaque-se, nesse quadro, o trabalho do SEBRAE e os programas de treinamento de pequenos empresários desenvolvidos através do SENAC, do SENAI, do PLANTOR, das incubadoras de negócios, nas Universidades, e vários outros.


Publicado no Jornal do Commercio de 16/05/2002, Caderno Perspectivas, pág. A-18.

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