Fórmula maquiavélica (Jornal do Commercio, 22/05/2006)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O Setor público retira do setor privado cerca de 40% do valor do PIB, 36,6% como tributos e o restante com operações de crédito.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


O Setor público retira do setor privado cerca de 40% do valor do PIB, 36,6% como tributos e o restante com operações de crédito. Embora tais recursos sejam devolvidos ao setor privado, sob a forma de gastos com pessoal, previdência, serviços, juros, etc, essa pesada carga reduz as margens de lucro do setor produtivo que, por sua vez, comprime os salários, reduz os investimentos e a geração de empregos.


Além desse aspecto estático (fotográfico), ainda temos a parte dinâmica (filme) do processo: o Governo permanentemente deficitário gasta mais do que recolhe e, pois, pressiona constantemente os preços e gera pressões inflacionárias, que o Banco Central procura neutralizar com a elevação dos juros, com sacrifício do setor privado.


Dessa forma, na atual conjuntura, a forte presença do Estado, superdimensionado e orçamentariamente   desequilibrado,   produz   dois  efeitos     negativos     e    explosivos: 1) constrange o crescimento da economia, pela recessão do consumo e dos investimentos; e 2) torna-se o maior responsável pelas pressões inflacionárias, eis que, na medida em que aumenta sua participação no bolo da Renda Nacional, desencadeia um processo de reajustes de preços e de salários, que tendem a realimentar a inflação (chamada inflação inercial).


Aí, entra o Banco Central que, para financiar os desequilíbrios do Tesouro Nacional, eleva a taxa básica de juros a níveis absurdos, que onera pesadamente o déficit público e cria um verdadeiro círculo vicioso, em que o déficit gera a dívida, a dívida gera os juros e os juros geram o déficit. Acrescente-se mais, que os juros altos afetam a taxa de câmbio e desestabilizam o mercado cambial, comprometendo o balanço de pagamentos, a longo prazo.


Visivelmente, existe um grande descontrole na política econômica, com prevalência da política monetária sobre a política fiscal. Do lado da política fiscal, é lamentável a ação dos Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – na corrida para aumentarem seus gastos, sem a necessária percepção política de que a fonte original de nossos maiores problemas é o tamanho do Estado que, como se diz, já não cabe dentro do PIB. De outro lado, há um equívoco fundamental na política monetária do Banco Central, que pensa controlar as pressões inflacionárias com a “varinha de condão” dos juros altos. É uma visão puramente acadêmica e ingênua em seus objetivos, simplesmente porque há mais de 50 anos que a taxa de juros não tem efeito direto e decisivo sobre a liquidez monetária e sobre a demanda agregada. Seus efeitos, indiretos, são mais negativos do que positivos, com uma elevada relação custos/benefícios.


Não resta dúvida que falta competência e vontade política para por ordem na confusa situação atual.


Publicado no Jornal do Commercio de 22/05/2006, Caderno Opinião, pág. A-19.

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