O número de mulheres que sustentam o domicílio, responsáveis por, pelo menos, 70% das despesas do lar, está em crescimento no país.
O número de mulheres que sustentam o domicílio, responsáveis por, pelo menos, 70% das despesas do lar, está em crescimento no país. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas mostra que essas mulheres já somam 2,7 milhões e trabalham, na maior parte, nos segmentos de serviços domésticos, educação, saúde e administração pública.
Em agosto de 2006, período ao qual se refere a pesquisa, entre as 9,06 milhões de mulheres ocupadas nas seis regiões, 29,6% eram responsáveis pelo sustento dos seus domicílios, percentual superior aos 28,7% do total de ocupadas apurados em agosto de 2002. Em quatro anos, o número de mulheres nessa situação cresceu 20,9%.
Luciene Kozovitz, analista da pesquisa, disse que o aumento da participação das mulheres principais responsáveis pelas despesas é uma tendência que vem se consolidando nos últimos anos e está relacionada a mudanças sócio-culturais, como a própria emancipação feminina, que possibilitam que as mulheres conciliem mais as responsabilidades em casa com o mercado de trabalho.
Mudanças
Estão ligadas ainda, segundo a analista, à redução do número de filhos e a uma “mudança nos arranjos familiares”, já que muitas mulheres vivem sozinhas ou apenas com os filhos, sem um cônjuge. De acordo com a pesquisa, 50,6% vivem sem cônjuge e com filhos; 24,4% vivem com cônjuge e 17,5% vivem sós.
A pesquisa mostra ainda um paradoxo nesse grupo de ocupadas, que reúne baixa escolaridade com salários acima da média das mulheres que trabalham. Enquanto 55,8% da população ocupada feminina nas seis regiões têm 11 anos ou mais de estudo, esse percentual cai no caso específico das mulheres responsáveis pelo orçamento familiar: 45,2%. Além disso, 38,4% dessas mulheres não concluíram o ensino fundamental.
Por outro lado, enquanto 78,6% das principais responsáveis ganhavam menos de três salários mínimos em agosto, na parcela da população ocupada feminina em geral esse percentual sobe para 81,6%. No grupo das trabalhadoras que ganham cinco salários mínimos ou mais lideram as principais responsáveis (12,7%) em relação às ocupadas em geral (10,4%).
Luciene explica que a hegemonia das mulheres que sustentam a família na pirâmide do rendimento está diretamente ligada ao grupo das mulheres que vivem só, que têm maior nível de escolaridade, trabalham nas atividades mais bem remuneradas e ganham melhores salários, puxando a média do grupo para cima. De qualquer maneira, os domicílios sustentados pelas mulheres têm rendimento bem inferior aos providos pelos homens, acompanhando a tendência que ainda persiste no mercado de trabalho em geral.
Em agosto, a renda total em domicílios cujos principais responsáveis eram homens chegava a R$ 2.116,28, muito superior ao rendimento médio de R$ 1.503,99 apurados em domicílios sustentados pelas mulheres.
Informalidade
Apenas 29% das mulheres que sustentam seus domicílios têm carteira assinada e a maior parte está vinculada a empregos sem carteira ou trabalham por conta própria, ambas formas de inserção consideradas informais pelo IBGE. Luciene diz que essa informalidade reflete o alto percentual (21,9%) das que trabalham em serviços domésticos, categoria com alto grau de empregos sem carteira.
Outra conclusão da pesquisa é que as principais responsáveis têm em média 43,5 anos de idade. Além disso, o grupo específico das que vivem sem cônjuge e com filhos apresenta menor nível de escolaridade, tem menor remuneração e está nos setores que pagam menores salários.
Em termos regionais, o maior percentual de trabalhadoras responsáveis pelo domicílio no total de mulheres ocupadas foi registrado em Salvador (35,7%), seguida de Porto Alegre (35,3%). Em São Paulo, o percentual foi de 28,1%.