A valorização do real provocou uma substituição de bens de consumo duráveis nacionais por importados. O Brasil está aumentando as importações e reduzindo as exportações de produtos como automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis. Impulsionadas pela recuperação das vendas no varejo, essas importações até se aceleraram nos últimos meses, o que ajuda a explicar o descompasso entre a indústria nacional e o comércio.
A quantidade importada de bens de consumo duráveis cresceu 74% nos 12 meses acumulados até setembro em relação a igual período do ano anterior.
A valorização do real provocou uma substituição de bens de consumo duráveis nacionais por importados. O Brasil está aumentando as importações e reduzindo as exportações de produtos como automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis. Impulsionadas pela recuperação das vendas no varejo, essas importações até se aceleraram nos últimos meses, o que ajuda a explicar o descompasso entre a indústria nacional e o comércio.
A quantidade importada de bens de consumo duráveis cresceu 74% nos 12 meses acumulados até setembro em relação a igual período do ano anterior. A alta foi ainda mais expressiva no terceiro trimestre: 93%. Já a quantidade exportada pelo país desses produtos caiu 6% no acumulado de 12 meses até setembro e 12% apenas no terceiro trimestre. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
As importações de carros em valores aumentaram 200% no terceiro trimestre e 109% no primeiro semestre, enquanto as exportações cresceram apenas 12% no primeiro e caíram 2,3% no terceiro trimestre. O total das exportações de automóveis, que chegou a quase US$ 3,5 bilhões de janeiro a setembro, ainda supera com folga o US$ 1,3 bilhão em importações, mas a diferença de performance entre vendas e compras no exterior é clara.
Nos eletrodomésticos, as importações cresceram expressivos 60% no primeiro semestre e 70% entre julho e setembro, sempre na comparação com igual período de 2005. As exportações desses produtos caíram 4,6% no semestre, mas se recuperaram um pouco no terceiro trimestre e subiram 8%. As importações de eletrônicos de som e vídeo, como televisores e DVDs, cresceram 50% no primeiro semestre, puxadas pela demanda provocada pela Copa do Mundo. Passada a euforia, as compras externas desses produtos aumentaram 15% no terceiro trimestre.
“Os produtos eletroeletrônicos nunca estiveram tão baratos”, afirma Valdemiro Hafenann, diretor corporativo da Salfer, rede de 42 lojas espalhadas por Santa Catarina e Paraná. Ele calcula que, em média, os preços desses itens caíram 20% no último ano, o que tornou os produtos mais acessíveis. A alta do real, que incentivou a importação, ajudou na queda dos preços. Com produtos mais competitivos, a companhia espera encerrar o ano com vendas similares as de 2005, o que pode ser considerada uma boa performance, pois o Sul do país sofreu com a crise agrícola.
De acordo com Hafenann, “hoje é difícil distinguir o nacional do importado”. O empresário diz que muitos produtos importados – batedeiras, ventiladores, aparelhos de som – são comprados de indústrias nacionais, que preferem trazer da China do que produzir no Brasil. Segundo ele, já é viável trazer de fora lava-roupas e secadoras – itens cujo frete alto funciona como barreira à importação.
Pierre Courty, diretor-geral das lojas Fnac no país, diz que os produtos eletrônicos mais sofisticados – câmeras fotográficas de alta tecnologia, MP3, alguns aparelhos de som – ficaram mais baratos no Brasil. Não apenas por conta do câmbio, avalia o executivo, mas também por conta da queda de preços “natural” nesse tipo de mercado. “Uma TV de plasma custa hoje um terço do que um ano e meio atrás”, diz. Nas linhas mais simples de televisores ou aparelhos de som, os fabricantes da Zona Franca de Manaus ainda são maioria nas lojas. Em setembro, a rede aumentou em 20% as vendas, depois de três meses fracos.
Em seu mix de livros e CDs, a Fnac oferece entre 20% e 30% de produtos importados. Courty afirma que a participação dos importados já foi menor na linha de CDs. Além do efeito cambial, esse fenômeno é conseqüência do enxugamento dos catálogos das gravadoras, que estão sofrendo com a concorrência da internet e da pirataria. “Temos que importar CDs de música clássica e jazz, por exemplo”, diz. Nos livros, o percentual de importados se mantém estável, porque fica restrito a volumes de arte, fotografia ou em língua estrangeira.
A equipe de economistas do Bradesco aponta três fatores principais para o aumento das importações: câmbio valorizado, que torna o produto importado mais competitivo; aquecimento do mercado interno, que aumenta a demanda por esse produto; e a crença do empresário brasileiro de que esse câmbio veio para ficar, o que o leva a alterar sua estratégia de produção.
Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, está ocorrendo uma substituição da produção doméstica pelos importados em bens de consumo duráveis e também em bens de capital. Ele lembra, no entanto, que o país ainda não retornou aos patamares observados no auge do Plano Real. Nos 12 meses acumulados até setembro, as importações de bens de consumo duráveis somaram US$ 2,8 bilhões, muito acima do US$ 1 bilhão registrado em 2003, mas abaixo dos US$ 3,9 bilhões do ano de 1997.