Luz amarela na infra-estrutura (Jornal do Commercio, 12/05/2005)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio


A última sondagem conjuntural realizada pela Fundação Getúlio Vargas sobre as expectativas do setor industrial contém, entre seus quesitos, uma indagação sobre os entraves à expansão. Ao lado da pesada carga tributária e do elevado nível de juros aparece arrolada como uma preocupação crescente a insuficiência da nossa infra-estrutura econômica.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio


A última sondagem conjuntural realizada pela Fundação Getúlio Vargas sobre as expectativas do setor industrial contém, entre seus quesitos, uma indagação sobre os entraves à expansão. Ao lado da pesada carga tributária e do elevado nível de juros aparece arrolada como uma preocupação crescente a insuficiência da nossa infra-estrutura econômica. Essa preocupação está retratada no salto de 4% para 10% das respostas que apontam, entre uma sondagem e outra, a última de 2004 e a primeira de 2005, o fator infra-estrutura como obstáculo ao crescimento econômico. Pode parecer pouco, mas, para as indústrias representadas na amostra, a progressão é sinal de uma tomada de consciência entre o empresariado de que falhas na infra-estrutura podem comprometer, por vários anos, a expectativa do forte crescimento econômico. Surge, assim, ao lado da carga tributária e dos juros, uma restrição de ordem física.


Com esse resultado da última sondagem conjuntural, vai consolidando-se a sensação de que a infra-estrutura econômica não tem condições de responder rapidamente aos reclamos da agricultura, da indústria e dos serviços, para dar-lhes condições de expansão dentro de um marco de competitividade, interna e externa.


O conceito de infra-estrutura econômica de um país reúne formas distintas de bens de capital e apoio logístico que geram, no dizer dos economistas, “externalidades” positivas. Dessa ampla de bens de capital no momento a preocupação maior, com vistas ao futuro imediato, reside nas usinas elétricas e na malha rodoviária.


Ainda está na memória de todos a crise de energia que abalou a economia nacional, há quatro anos, quando os reservatórios das centrais hidrelétricas chegaram a níveis críticos. Da lição do “apagão”, ficou a certeza de que o sistema elétrico brasileiro para ter confiabilidade não pode ficar à mercê da fase de baixa no ciclo das águas, que num período de dez anos teve pelo menos três anos secos.

A precariedade da malha rodoviária brasileira é tema que está nas páginas das revistas e jornais e pode ser visualizada com exemplos que, a toda hora, surgem através da televisão. Talvez o caso mais emblemático seja o da queda recente de uma ponte da rodovia Régis Bittencourt, na fronteira entre Paraná e São Paulo que comprometerá por vários meses a complicada ligação rodoviária do Sul com as demais regiões do País. O próprio Ministério dos Transportes reconhece que dos 72 mil quilômetros de rodovias, dos quais 58 mil pavimentados, mais de 40% estão em mau estado de conservação.


Para se ter idéia da importância da malha rodoviária, embora a matriz dos transportes esteja desequilibrada, ou, talvez por isso mesmo, as estradas de rodagem não deveriam participar com mais de 40% do sistema intermodal. No entanto, para exemplificar com o porto de Santos, as cargas movimentadas pelo modo rodoviário corresponderam, em 2003, a 73% da movimentação total. Sem dúvida, o mau estado das rodovias, é um dos elementos importantes do “Custo Brasil”, afetando negativamente, por exemplo, a nossa competitividade na venda de grãos ao exterior.


Não se diga que há falta de recursos financeiros para os investimentos e manutenção da rede de estradas de rodagem brasileiras. Com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – a Cide, o Congresso Nacional estabeleceu a vinculação dos recursos assim gerados à recuperação e construção de novas rodovias. No entanto, até segunda ordem, as restrições orçamentárias continuam a prevalecer sobre a política de investimentos governamentais. E como os investimentos de infra-estrutura exigem um prazo mais ou menos longo de maturação, o tempo perdido dificilmente será recuperado.


Publicado no Jornal do Commercio de 12/05/2005

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