Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
O novo Presidente da República, qualquer que seja o eleito, terá de enfrentar um enorme desafio para colocar o país na rota do crescimento econômico, com relativa estabilidade monetária.
Esse desafio será ainda maior depois que as agências de classificação de risco como a Standard & Poor´s, Fitch e Moody´s rebaixaram a posição do Brasil, movidas, em grande parte, ao que tudo indica, pelas incertezas do ano eleitoral e pelas declarações difusas e até incoerentes
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
O novo Presidente da República, qualquer que seja o eleito, terá de enfrentar um enorme desafio para colocar o país na rota do crescimento econômico, com relativa estabilidade monetária.
Esse desafio será ainda maior depois que as agências de classificação de risco como a Standard & Poor´s, Fitch e Moody´s rebaixaram a posição do Brasil, movidas, em grande parte, ao que tudo indica, pelas incertezas do ano eleitoral e pelas declarações difusas e até incoerentes de candidatos. Entretanto, é forçoso reconhecer que os “fundamentos” da economia não são tão sólidos como desejariam as autoridades da área econômica e financeira.
Do ponto de vista econômico-financeiro, os elementos de risco que levam essas agências a rebaixarem a classificação dada ao Brasil estão centrados na relação dívida pública/produto interno e na forte dependência do País ao investimento estrangeiro, para fechar o déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.
Há alguns aspectos dessas avaliações que não se pode negar. Com efeito, a dívida pública, que em janeiro de 1995, quando da posse do atual Presidente da República, correspondia a 30% do PIB, situa-se hoje ao redor dos 55%. Estamos falando de algo equivalente a 250 bilhões de dólares, cuja garantia de rolagem futura significa abandonar qualquer idéia de quebra das regras contratuais, mantendo, ao mesmo tempo, uma política de rigorosa austeridade fiscal. Quando se fala em superávit primário das contas publicas, o propósito é o de evitar que a relação dívida interna/PIB cresça além dessa relação, que já se situa em nível crítico.
Do lado externo, os saldos negativos na balança comercial, em grande parte gerados pela rigidez da política de sobrevalorização cambial, que se estendeu até princípios de 1999, resultaram na necessidade de um ingresso vultoso de capitais de risco, para compensar o déficit em conta corrente. Entre 1994 e 1999, as entradas totais de investimentos diretos passaram de 9,6 bilhões para 31,2 bilhões de dólares. E´ mais do que óbvio que tal tendência não poderia continuar indefinidamente. Com sorte, num contexto de reversão dos saldos do balanço de comércio para uma cifra positiva de 5 bilhões de dólares, no fechamento do ano, será possível contar com novas entradas de investimento direto ao redor de 16/18 bilhões de dólares, conforme as previsões oficiais.
A vulnerabilidade atual da economia brasileira é evidente. O país foi afetado pelas sucessivas crises que abalaram o México, o Sudeste Asiático, a Rússia e, mais recentemente, a Argentina. As autoridades brasileiras tiveram de atuar defensivamente e a brutal elevação dos juros é um bom exemplo. Nesse contexto de fatores externos negativos, a economia brasileira não está infensa aos efeitos de uma reação em cadeia, provocada não só pela situação argentina como por um surto mundial de protecionismo. A crise Argentina já está, também, afetando as economias do México, do Uruguai e talvez do Chile.
A vulnerabilidade atual da economia brasileira é evidente. O país foi afetado pelas sucessivas crises que abalaram o México, o Sudeste Asiático, a Rússia e, mais recentemente, a Argentina. As autoridades brasileiras tiveram de atuar defensivamente e a brutal elevação dos juros é um bom exemplo. Nesse contexto de fatores externos negativos, a economia brasileira não está infensa aos efeitos de uma reação em cadeia, provocada não só pela situação argentina como por um surto mundial de protecionismo. A crise Argentina já está, também, afetando as economias do México, do Uruguai e talvez do Chile.
Ao lado dessas dificuldades que não podem ser vencidas da noite para o dia, existem dificuldades adicionais que emergem dos embates próprios das campanhas eleitorais. Não deixa, portanto, de ser um sinal alvissareiro, emitido pelo candidato hoje à frente das sondagens eleitorais, o reconhecimento de que a mudança gradual de direção é melhor para o País do que a ruptura voluntarista e ideológica.
O candidato que for eleito, num governo necessariamente de coalizão, terá, na verdade, pouca margem de manobra, mais por absoluta necessidade de apoio do que por convicção doutrinária. Daí que estamos vendo proclamados por todos eles, o compromisso com o objetivo da inflação baixa, com a estabilidade da dívida interna e o respeito às relações contratuais, internas e externas. Assim se reduz a possibilidade de que o risco argentino possa inserir-se no risco Brasil. O Brasil tem três sólidos mecanismos de defesa, a seu favor, que são o sistema de câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a solidez do sistema bancário nacional. Eles fazem a diferença.
Publicado no Jornal do Commercio de 06/07/2002, Caderno Perspectivas, pág. A-16.