Os rumos da economia nacional (A Gazeta, 060/06/2004)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Como é fácil verificar, com exclusão dos bancos, o único setor da economia nacional que apresentou resultado excepcional em 2003 foi o das exportações, incluindo as commodities da agroindústria.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Como é fácil verificar, com exclusão dos bancos, o único setor da economia nacional que apresentou resultado excepcional em 2003 foi o das exportações, incluindo as commodities da agroindústria. O crescimento de 21,1% das exportações foi fundamental para evitar uma crise de sérias proporções, mas, mesmo assim, não impediu o desempenho negativo do PIB (-0,2%).


Afora as exportações, outros indicadores da economia apresentaram resultados pífios: o desemprego médio acima de 12% e a queda do salário real em 5,4% indicam o estado de fraqueza da economia nacional, incapaz de levantar vôo com as amarras de uma taxa de juros de mais de 40% para desconto de duplicatas (capital de giro) e uma carga fiscal insuportável, também caminhando para 40% do PIB, duas vezes mais alta que a dos países emergentes que conosco concorrem nos mercados internacionais.


A economia nacional estagnou há alguns anos e, desde então, vai se configurando a impossibilidade de voltar a crescer às taxas tradicionais, enquanto o País estiver subjugado à ineficiência de uma política fiscal que subtrai 40% dos recursos privados, para um serviço público precário, que não atende às exigências mínimas em setores de saúde, educação, saneamento e segurança pública.


Cabe repetir que, no Brasil, só encontram espaço para crescer, afora os bancos, as grandes firmas do setor agropecuário e da exportação, porque desfrutam de crédito a juros internacionais e tributos várias vezes menores que os das empresas voltadas para o mercado interno.


Some-se a tudo isso uma burocracia infernal e uma crescente corrupção, para completar um diagnóstico de mediocridade e de incapacidade. Por maior simpatia que tenhamos pela atual Administração, não se pode fugir à evidente dificuldade para administrar a dívida interna em preocupante expansão, sobre a qual incidem juros anuais correspondentes a quase 10% do PIB. A economia brasileira pode até crescer 3%, em um ano, mas será um “vôo de galinha”. Dificilmente, terá sustentação.


Para realizar o “espetáculo do crescimento”, o Governo terá que promover o desmonte deste Estado paquiderme, nos três níveis de Governo, liberar as amarras do setor privado e do mercado interno, combater a ignorância de uma pseudo política ambiental, que se contrapõe, sistematicamente, aos avanços da ciência e da tecnologia, e praticar uma “política externa de resultados”, distanciada do atavismo terceiro-mundista.


Ninguém discorda que essa é uma tarefa extremamente difícil e impopular que, além de coragem e determinação, vai requerer o empenho de mais de uma administração. Mas é certo que se não começarmos esse programa, o quanto antes, estaremos condenando o País a um futuro medíocre.


Publicado no jornal A Gazeta de 06/06/2004, Caderno Opinião, pág. 05.

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