Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Nos últimos dias, o Brasil assistiu a mais um capítulo da novela dos transgênicos, que já se arrasta há cerca de 20 anos. Em 1988, o CTNBio emitiu parecer favorável à liberação de cinco variedades de soja transgênicas e o Ministro da Agricultura homologou a decisão, abrindo espaço para uma verdadeira revolução na agricultura brasileira.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Nos últimos dias, o Brasil assistiu a mais um capítulo da novela dos transgênicos, que já se arrasta há cerca de 20 anos. Em 1988, o CTNBio emitiu parecer favorável à liberação de cinco variedades de soja transgênicas e o Ministro da Agricultura homologou a decisão, abrindo espaço para uma verdadeira revolução na agricultura brasileira. Mas a Justiça embargou a decisão, atendendo a uma postulação do Instituto de Defesa do Consumidor.
Transgênicos são espécies orgânicas alteradas em laboratório, com o objetivo de melhorar a produtividade ou a resistência de certas plantas aos ataques de insetos, fungos ou bactérias. No caso da soja, a empresa americana Monsanto introduziu no DNA da planta o gene proveniente de uma bactéria encontrada no solo, a agrobacterium s.p.p., dando-lhe proteção e resistência contra os inseticidas e herbicidas que atacam as pragas e as plantas daninhas. O uso desses agrotóxicos não provoca qualquer dano à soja, pelo que já se comprovou através de todas as experiências realizadas até agora.
No III Simpósio de Biosegurança Latinoamericano de Produtos Transgênicos, realizado em Recife, houve consenso de que a soja transgênica não causa qualquer dano ao meio ambiente e é absolutamente segura para o consumo humano. A Organização Mundial de Saúde (OMS), a Food and Agriculture Organization (FAO), a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, assim como o CTNBio e a EMBRAPA, no Brasil, todos aprovam o plantio e o consumo de produtos geneticamente modificados, especialmente a soja. Nos Estados Unidos, que adotaram o uso de sementes transgênicas desde 1994, 99% da soja produzida têm essas características. A Argentina, a Austrália, a India, o Canadá e a China são países que aderiram inteiramente à cultura dos produtos transgênicos. Existe hoje, no mundo, cerca de 80 milhões de hectares plantados com semente de soja transgênica, que já respondem por mais da metade da colheita mundial. No Rio Grande do Sul, no ano passado, a área plantada de soja transgênica chegou a mais de 3 milhões de hectares.
Em reunião recente, o Parlamento da União Européia decidiu que nenhum país membro poderá proibir o plantio de semente transgênica, a menos que seja provado, cientificamente, que seu consumo possa provocar danos ao homem e aos animais.
O Brasil está absolutamente isolado, segundo o Diretor do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia, da EMBRAPA. Segundo ele, há mais de 30 anos a EMBRAPA vem desenvolvendo a tecnologia de transgênicos para tornar as plantas mais nutritivas e mais resistentes às pragas e à seca. A EMBRAPA tem soja adaptada para todas as regiões do País e trabalha com 27 cultivares prontos para comercialização. E conclui: “as autoridades brasileiras, principalmente o Judiciário, estão impedindo o desenvolvimento científico da biotecnologia brasileira”.
O Vice-Presidente José Alencar agiu com absoluto senso de oportunidade ao assinar a MP que autoriza o plantio de soja transgênica em terrítório nacional, na presente safra. A agricultura brasileira está comemorando essa decisão como uma vitória sobre a ideologia de “grupos radicais do ambientalismo ambivalente” que, sistematicamente, vêm se opondo à modernização da produção agropecuária, como à abertura de estradas e à construção de usinas elétricas, conforme acentuou, em artigo recente, o esclarecido empresário Antonio Ermírio de Moraes.
Poder-se-ia argumentar com o fato de não serem férteis as sementes transgênicas, o que criaria uma perigosa dependência para a agricultura brasileira, em relação às fontes estrangeiras. Que “dependência” é essa, que está permitindo ao Brasil produzir uma safra de 122 milhões de toneladas de grãos e tornar-se o maior exportador mundial de soja? O mesmo se poderia dizer da avicultura nacional, onde todas as matrizes são importadas. Por acaso essa dependência impediu o Brasil de ocupar o 1º lugar na exportação de carne de frango? O mesmo raciocínio pode-se aplicar ao caso da Microsoft, na informática, da qual praticamente, todos nós somos dependentes, sem que, nem por isso, tenhamos que abandonar nossos computadores.
Publicado na Gazeta de 23/11/2003, Caderno Opinião, pág. 5.