O forte aumento das exportações brasileiras nos últimos anos não se deve apenas ao excepcional crescimento da China e à demanda mais forte por commodities. De 2000 a 2005, as exportações cresceram 530%. A maior expansão ocorreu nos produtos básicos, com 176%. No entanto, quem mais contribuiu para a alta no valor exportado foram os manufaturados, com uma ajuda de 51%, seguidos pelos básicos, 35%, e pelos semimanufaturados, com 11,8%.
O forte aumento das exportações brasileiras nos últimos anos não se deve apenas ao excepcional crescimento da China e à demanda mais forte por commodities. De 2000 a 2005, as exportações cresceram 530%. A maior expansão ocorreu nos produtos básicos, com 176%. No entanto, quem mais contribuiu para a alta no valor exportado foram os manufaturados, com uma ajuda de 51%, seguidos pelos básicos, 35%, e pelos semimanufaturados, com 11,8%.
Com estes números, a economista Lia Valls Pereira questiona a tese de que estaria ocorrendo uma reprimarização da pauta de exportações do Brasil, por meio da qual o país estaria novamente apoiando seu comércio com outros países essencialmente em produtos básicos, como as commodities. Lia, que é coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), argumenta que a tese da reprimarização pressupõe que as manufaturas não contribuam mais para o aumento das vendas externas e afirma que os dados mostram cenário oposto a esse.
A forte demanda chinesa e a elevação dos preços das commodities explicam grande parte do bom desempenho do Brasil no comércio internacional. Mas a diversificação dos mercados consumidores dos produtos brasileiros, especialmente entre 2001 e 2005, também impactou positivamente a balança comercial.
Essa entrada de novos parceiros comerciais no país pode ser evidenciada através de uma medida chamada índice de diversificação. Quanto maior esse índice, menor é o grau de diversificação da pauta de exportações de um país. Pelos cálculos do Ibre, o Brasil aumentou tanto o leque de países compradores de seus produtos como o de fornecedores de bens para o mercado doméstico, aponta Lia Valls em artigo na revista “Conjuntura Econômica”, da FGV.
O índice de concentração da pauta das vendas externas cedeu de 0,0845, em 2001, para 0,061 em 2005. Ao mesmo tempo, essa medida para as importações passou de 0,086 para 0,062. Para Lia, isso significa que há uma tendência nítida de diversificação do comércio exterior. Assim, na avaliação da economista, o crescimento dos valores exportados e importados é explicado pelo aumento de participação em número crescente de mercados.
Neste período, a China foi um dos mercados que mais ganharam participação nas exportações brasileiras. Antes, ela era o 12º mercado de destino e comprava 2% de tudo o que o Brasil exportava, com o foco principal em produtos básicos, como soja e minério de ferro. Hoje, já é o 3º maior comprador do país e subiu sua participação para 5,8%. Mas a contribuição do dragão asiático para o aumento de 530% nas exportações brasileiras foi de apenas 9% entre 2000 e 2005. “Embora a China seja um país extremamente importante, os maiores mercados ainda são os países das Américas”, diz Lia.
A economista analisou os 24 principais produtos exportados pelo Brasil, que explicam 55% do valor total exportado em 2005. Desses bens, dez podem ser classificados como commodities. A soma deles corresponde a nada menos do que 44,2% do valor exportado por esses produtos e a 25% do total das exportações. “É inegável a importância dos básicos na pauta de exportação do país”, diz Lia.
No entanto, ela ressalta que a análise dos mesmos 24 produtos mostra que os EUA são o principal mercado para 9 itens básicos. Nos 55,8% dos demais 14 produtos não-básicos estão presentes manufaturados, como aviões, aparelhos transmissores, partes e peças para veículos e motores. “É a força de outros bens e de outros mercados”, enfatiza a economista.
Apesar de apontar outros motivos importantes, além do crescimento chinês, para o forte aumento das exportações brasileiras, Lia lembra que os produtos básicos ganharam espaço na pauta. Entre 2000 e 2005, esses produtos passaram de uma participação de 22,8% para 29,3%. Em contrapartida, os manufaturados perderam lugar e foram de 59% para 55,1% em 2005. Movimento semelhante, mas em menor intensidade ocorreu com os semimanufaturados, que antes representavam 15,4% das exportações e agora são 13,5%.
E, se o cenário internacional não sofrer grandes mudanças nos próximos anos, a tendência é de que esses os básicos continuem ganhando espaço na balança comercial e os demais percam participação. Mas, para Lia, é muito prematuro falar de reprimarização e de desmonte da estrutura industrial brasileira.
Por mais que o câmbio não seja favorável a alguns tipos de produtos, “ele não explica e nem é culpado por tudo”. É preciso considerar as potencialidades dos outros países, a diversificação da pauta e a estrutura das indústrias brasileiras. Segundo Lia, no mercado mundial, o que explica o fluxo de trocas é o comércio entre indústrias.
“É preciso estabelecer relações vantajosas com alguns países”, diz. Ao invés, por exemplo, de fazer um calçado de baixo valor agregado aqui e depois não conseguir competir com um sapato fabricado na China, por que não comprar o calçado chinês mais barato e deixar para produzir no Brasil um produto de melhor qualidade e maior preço, questiona a economista.