A redução da dívida externa brasileira e a conseqüente melhora dos indicadores de solvência do País têm dividido a opinião de especialistas em contas externas sobre o nível ideal para as reservas internacionais. Se para alguns o atual patamar de US$ 70 bilhões representa uma situação confortável e aumentá-lo seria mais custoso do que benéfico, para outros não há uma fórmula que garanta tranqüilidade diante de uma forte crise internacional.
Na teoria, as reservas internacionais de um país devem cobrir, pelo menos, as parcelas da dívida externa que vencerão nos 12 meses seguintes.
A redução da dívida externa brasileira e a conseqüente melhora dos indicadores de solvência do País têm dividido a opinião de especialistas em contas externas sobre o nível ideal para as reservas internacionais. Se para alguns o atual patamar de US$ 70 bilhões representa uma situação confortável e aumentá-lo seria mais custoso do que benéfico, para outros não há uma fórmula que garanta tranqüilidade diante de uma forte crise internacional.
Na teoria, as reservas internacionais de um país devem cobrir, pelo menos, as parcelas da dívida externa que vencerão nos 12 meses seguintes. O montante também serve como um colchão a ser utilizado caso o país necessite lançar mão de dólares numa situação de crise econômica internacional. Cálculos do economista Márcio Garcia, por exemplo, dão conta de que estes vencimentos somariam cerca de US$ 45 bilhões, o que já permitiria uma sobra de mais de US$ 20 bilhões no caixa.
Para se ter uma idéia da evolução das reservas, em janeiro deste ano elas somavam cerca de US% 56 bilhões, saltando para pouco mais de US$ 63 bilhões em maio. No início de julho estas se situavam próximo dos US$ 68 bilhões e, no fechamento da última sexta-feira estavam em US$ 72,7 bilhões.
Precedente perigoso
Mesmo diante dos sinais de que já existiria um excedente, ainda paira sobre o mercado a sombra da desvalorização de janeiro de 1999. Alguns meses antes, no final de 1998, o Brasil também podia considerar estar com um nível elevado de reservas, em torno de US$ 70 bilhões, mas o desfecho da crise mostrou que estas reservas não foram suficientes para evitar o problema.
“De fato a dívida externa brasileira já se reduziu muito e as reservas internacionais estão em um nível bem confortável. Também é verdade que, em um modelo como o nosso de câmbio flutuante, não é necessário se dispor de tantas reservas. Mesmo diante destes fatos, não se pode dizer que já é o suficiente e que o BC deveria parara de comprar a moeda americana. Nunca se sabe o tamanho de um crise que possa acontecer na economia mundial”, defende Fernando Holanda, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas.
O ponto negativo em se continuar acumulando reservas, de acordo com Holanda, é o custo da formação do montante. O custo é a diferença entre a taxa de juros interna (Selic) e internacional, praticada pelo governo americano. Desta maneira, quando o BC compra dólares, é aplicada a taxa internacional, atualmente em 5,25%. Para comprar os dólares, no entanto, a autarquia precisa emitir reais, que são trocados por dívida pública interna, corrigidas pela Selic. Desta maneira, o custo da operação fica em pouco mais de 6%.
“Um das críticas que têm sido feitas é a de que o BC estaria comprando dólares não com o objetivo de formar reservas, mas de segurar o preço da moeda no mercado interno. Este problema, no entanto, não deve continuar na medida em que os juros internos devem continuar caindo e se tornarão menos interessante para o investimento”, comenta o economista do Ibre.
Desaceleração iminente
De opinião similar é o professor do Instituto de Economia da USP, Siegfried Bender. Ele também defende que é difícil se determinar quando é o momento de parar de se formar reservas. “É arriscado dizer que deve se parar. O patamar pode ser elevado para a conjuntura atual, mas não podemos nos esquecer que, em momentos de crise, tudo muda. O mundo espera, por exemplo, uma desaceleração do ritmo da atividade da economia americana. Tudo indica que esta ocorrerá de maneira suave, mas se não ocorrer? Teremos uma forte redução no comércio internacional, o que deve impactar fortemente o fluxo de dólares em países como o Brasil. As reservas atuais seriam suficientes para sanar o problema?”, indaga.
Para o analista da consultoria Tendências, Guilherme Loureiro, o BC deverá manter a estratégia de comprar dólares até o final do ano, mas o ritmo deve começar a perder força à medida que a taxa de juros do País for caindo. Ele estima que o Tesouro Nacional encerre 2006 com reservas em torno de US$ 80 bilhões.
Loureiro lembra que, em junho deste ano, a dívida líquida do setor público já estava superavitária em R$ 14,5 bilhões. Se considerados os swaps cambiais, o saldo passa, em agosto, a R$ 181, bilhões. O economista também compartilha da opinião de que não é fácil especular sobe o nível perfeito de moeda estrangeira nos cofres nacionais, mas alerta que o BC está comprando mais moeda do que o necessários para se enxugar a liquidez atual de dólares no mercado interno. “O BC está mais do que comprando o fluxo de dólares, ele também está tomando a posição de bancos. É preciso se verificar se esta iniciativa é vantajosa”, comenta.