Rumos do comércio internacional (Jornal do Commercio, 21/06/2002)

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Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Recentemente, as três personalidades que estão à frente das principais instituições multilaterais de cooperação econômica juntaram sua vozes, para condenar a ressurgência do protecionismo no comércio internacional.

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


Recentemente, as três personalidades que estão à frente das principais instituições multilaterais de cooperação econômica juntaram sua vozes, para condenar a ressurgência do protecionismo no comércio internacional. De acordo com James Wolfensohn, Presidente do Banco Mundial, Horst Köhler, Diretor –Gerente do Fundo Monetário Internacional e Mike Moore, Diretor Geral da Organização Mundial do Comércio, as crescentes manifestações de protecionismo entorpecem o crescimento econômico mundial, atrasam as reformas econômicas e postergam a abertura dos mercados.


O que existe por detrás dessa tomada de posição é, na verdade, uma condenação, ainda que feita por via oblíqua, das decisões tomadas pelo governo dos Estados Unidos para expandir internamente os subsídios agrícolas e reduzir as importações de aço. O comunicado conjunto, assinado por Wolfensohn, Köhler e Moore, revela o temor de uma reação em cadeia que, alcançando uma escala mundial, comprometeria, sobretudo, os países ditos em vias de desenvolvimento. Isso não significa, apenas, repetir o quadro permanente de perdas nas relações de trocas entre países centrais e países periféricos, como dizia Raul Prebisch, haja vista que o Japão acaba de notificar a OMC sobre sua decisão de impor vultosas sanções aos Estados Unidos, como retaliação às tarifas americanas incidentes sobre o aço. Analogamente, a União Européia pretende impor sanções sobre uma ampla gama de produtos provenientes dos Estados Unidos que incluem, além do aço, têxteis e frutas.


Essas ações comprometem a rodada de negociações tarifárias que teve início na reunião da OMC, em Doha, em novembro passado. Há nisso tudo um aparente paradoxo. Como será possível, para as lideranças políticas dos países de economia em desenvolvimento, os países ditos emergentes, aceitar e proclamar as vantagens apregoadas pela teoria do livre comércio, quando o exemplo das economias líderes aponta na direção oposta, da proteção aos mercados nacionais?


Para o Brasil, as restrições impostas pelos Estados Unidos à importação de têxteis, aço, gasolina, suco de laranja etc… só fazem aumentar as reservas mentais com as quais recebemos, governo e empresariado, a proposta de criação no hemisfério de uma área de livre comércio, a ALCA. Se os parceiros do Norte se fecham para nossos produtos de exportação, em domínios nos quais somos claramente competitivos, que dirá, então, da contrapartida que o Brasil esperaria de uma maior abertura comercial, em termos de transferência de tecnologia de ponta, sem a qual o país estaria condenado a produzir e exportar produtos primários, matérias primas e manufaturas intermediárias?


Às vésperas das eleições gerais, nas quais está em jogo a Presidência da República, há uma clara consciência entre os candidatos e os partidos políticos em relação à fragilidade externa de nossa economia, decorrente de nossa extrema dependência de capital estrangeiro, para fechar a brecha do balanço de pagamentos em conta corrente. Sem uma robusta expansão de nossas exportações, o protecionismo das economias líderes faz do nosso país refém do nível de liquidez internacional e dita o ritmo do nosso desenvolvimento. Menos por convicção e mais por absoluta necessidade, a política comercial do próximo Presidente da República será forçosamente de caráter defensivo. Esta será a marca da nova política industrial inserida nos rumos do comércio internacional.


Publicado no Jornal do Commercio de 21/06/2002, Caderno Perspectivas, pág. A-18.

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